sábado, 29 de dezembro de 2012

Capítulo 4 "Romance" Parte 2 Final.

Meu beijo com Gregório durou pouco tempo, mas para mim, foi como se séculos tivessem se passado. Tudo estava muito perfeito. Eu, ele de pijama, nós dois quase bêbados de cerveja, sentados na cama dele. Tudo caminhava para uma noite maravilhosa, mas foi quando eu senti os músculos do rosto dele ficarem tensos. De uma maneira delicada e educada ele me afastou e se levantou. Saiu da cama pelo lado oposto de onde eu estava dando a entender que estava cansado ou indisposto ou até mesmo desconfortável com a situação. No fundo eu acho que ele estava os três...

Sem reação eu caminhei para a porta do quarto e sem saber o que fazer apenas disse:

— Desculpa... Eu... Vou deixar você dormir...

Saí rápido e a passos largos sem olhar para trás, entrei no meu quarto, num misto de vergonha e arrependimento, pulei na cama e lá fiquei revirando até conseguir pegar no sono, o que demorou pois a ultima vez que olhei no relógio, já eram mais de 5 horas. 

No dia seguinte, acordei com o sol nos meus olhos, morto e com uma ressaca moral terrível, o relógio acusava quase meio dia. Desci as escadas de cueca, sem sequer pensar na possibilidade do Greg estar lá embaixo. Eu precisava com urgência de um cigarro. 


Roubei um do Gregório que estava na mesinha da sala mesmo e fui para o quintal fumar. Não era da marca que eu costumo fumar, mas serviu ao propósito de me acalmar:

 Ô lá em casa! 
Essa cantada me fez voltar a realidade. Sua autora, Peônia Cindernell estava recolhendo as garrafas deixadas no pátio dos fundos do Peggy's que por acaso fazia divisa com os fundos da casa do Greg. Só então a ficha de que eu estava de cueca caiu, eu torci para que a mureta que separava ambos os quintais tivesse me ocultado da cintura para baixo:
 Almoça comigo?  Gritou Peggy.
 Só nós dois?
 Pode ser.
 Vou colocar uma roupa e vou até aí. 



O Peggy's ainda estava fechado, mas uma das mesas estava posta com uma toalha, pratos e uma apetitosa travessa de escondidinho carne moída com batata e outra com uma salada verde:
 Eu curto cozinhar, mas detesto comer sozinha. O Greg vai trabalhar o dia todo hoje.
Respirei fundo:
 Peggy, sobre ontem a noite...
 Uuuuuuuuuiii! Conta, conta, conta!
— Eu acho que fiz merda.
— Discorra.

Contei a noite anterior com riqueza de detalhes. Dos planos, medos, intenções e do desfecho frustrante:
—  Sa-fa-di-nho.
— Meu sério, foi muito estranho e agora ele vai querer colocar uma cerca elétrica ao redor dele. Achei um milagre minhas coisas não estarem amontoadas na porta hoje cedo. Eu com certeza ultrapassei os limites.
— Não, não ultrapassou não. Eu conheço o Gregório, Se ele fez isso provavelmente é porque ele também está tão confuso quanto você.
— Por acaso eu sou o primeiro homem dele?
Peggy riu como se eu tivesse dito a coisa mais idiota do mundo:
— O que foi?
— Lembra quanto eu te apresentei o Gregório?
— Se lembro? Eu queria me esconder debaixo do banco com aquela encarada que ele me deu.
— Aquilo se chama "Quem come".
— Oi?
— "Quem come". Funciona assim, nós dois encaramos uma pessoa, e aquele que receber mais atenção é sinal de que a pessoa prefere morenos ou ruivas. 
— Brincadeira idiota.
— Nós brincávamos disso quando tínhamos sei lá... Quinze anos. O que eu quero que você entenda é que não é fácil ser uma criança da Cidade Velha. 
— Agora discorre você rapariga.
— Bom. Vila Regina e Novo Horizonte têm várias praias. Mas só isso. Santa Clara tem as melhores escolas, hospital, fábricas, centro comercial desenvolvido e uma rede hoteleira descente. A cidade é dividida entre a Cidade Nova, onde tem tudo isso, e a Cidade Velha, que é esse charme que você vê. Cheia de passeios praças, parques Algumas cantinas e o Peggy's. Mas na maioria quem mora aqui na cidade velha são casais de Idosos ou aposentados. Quando você cresce na cidade velha, você acaba tendo pouco contato com diferentes, mesmo morando numa cidade turística. Os turistas frequentam mesmo é a Cidade Nova, onde ficam as baladas, o Gran Hotel e os terminais rodoviários para fora da cidade. 
"Mas isso não quer dizer que as crianças da cidade velha não amadurecem ou são caipiras. Nós crescemos diferente. Eu e Greg tinhamos um pequeno grupo de pessoas escolhidas a dedo, todos moravam nas proximidades da cidade velha. Cada passeio, cada parque, cada praça, até mesmo os morros e a zona rural eram nossos quintais. E como tínhamos o melhor espaço, aprendemos a ser seletivos. Gostávamos da melhor música, das melhores comidas, das melhores bebidas e até mesmo as melhores pessoas na hora de nos apaixonarmos." 
"De fato, as coisas poderiam ser rápidas ou devagar, mas eram feitas com as pessoas certas, eram preciosas, aconteciam no seu tempo. Eu nunca precisei ir numa festa e beijar 20 garotos pra impressionar alguma idiota na escola. A cidade velha era nosso paraíso. Criamos um santuário onde aqueles que queriam se sentir aceitos e aceitavam bem os outros conseguiam viver em paz. No meio disso tudo, Greg era o garoto mais quieto e na dele. Todos achavam que ele era pelo menos cinco anos mais velho do que ele realmente era, afinal não é fácil ser o mais alto e ter barba desde os quatorze anos. Ele era bem quieto e calado. Mas era parceiro. O problema do Gregório é que ele se envolve com as pessoas muito facilmente e de uma maneira muito profunda e muito rápida. De fato pra você transar com ele basta apenas algumas horas de conversa e se mostrar interessado nisso. Eu vi ele ir pra cama a primeira vez com quinze anos numa festinha com uma garota que só queria se divertir. Mas depois ele ficou magoado quando ela desapareceu. No final das contas, ele disse que só queria 'passar o tempo'. No ano seguinte ele foi pra cama com um turista de dezenove anos porque queria 'curtir a experiência' mas eu sei que ele ficou muito chateado quando o menino foi embora."
— Então ele é do tipo que se apega fácil as pessoas?
— Exato.
Um sentimento de culpa surgiu em mim. Eu iria embora de Santa Clara assim que algum lampejo de criatividade surgisse em mim, assim que eu tivesse algo para mostrar pro meu editor e finalmente pudesse respirar. Eu nunca tinha parado pra pensar o que faria com Greg ou Peggy depois disso. Provavelmente visitá-los nas férias ou coisa do tipo. 
— E porque você acha que dessa vez ele não quis se envolver comigo?
— Bom, desde que os pais dele morreram, ele mudou um pouco o jeito dele de ser. Não raramente eu encontro vestígios de outras pessoas visitando o quarto dele, mas, quando eu pergunto, ele nega ou desconversa. Ele afasta pessoas estranhas e pra ser sincera eu não creio que ele saiba o nome de um terço das pessoas com quem ele vai pra cama.
— Então ele não fica com ninguém por receio das pessoas se afastarem?
— Não sei se é receio, medo das pessoas irem embora, só sei que não pode ser culpa sua.
— O Fato Peggy, é que eu beijei ele e ele se afastou. Ele não deve ter gostado ou deve estar com raiva.
— Ele só deve estar pensando.
— Em quê?
— Téo, Greg é uma pessoa ótima, mas é muito solitário. Ele vive sozinho a muito tempo e dificilmente confia em alguém. Mas é só conversar com ele que você nota que no fundo Greg é só uma pessoa extremamente carente de afeto.

Carente de afeto. Mais uma vez, Peggy colocou Greg como meu igual. Nós dois, carentes, solitários, cada um a sua maneira, desejando apenas estar com alguém que nos acolha. O eterno problema das pessoas carentes é achar que qualquer rejeição é sua culpa. Esquecer que existem duas pessoas em uma relação, cada uma com suas dinâmicas diferentes, problemas diferentes. Eu queria entender o problema do Greg, eu queria ajuda-lo a resolver esse problema, eu queria estar com ele.
— Onde ele estaria pensando Peggy?
— Quando alguma coisa aflige muito o Greg, ele vai até o velho mirante abandonado no morro de Santa Clara. Ele senta no mirante e fica olhando a cidade por horas. Provavelmente ele vai pra lá depois do trabalho. 
— Onde é isso?
—  Segue a avenida da cidade velha até a estrada que leva pra zona rural, você vai encontrar uma trilha ao lado direito da estrada que sobe o morro. É só seguir.
— Vou resolver isso agora.

Peguei minha vespa e segui o caminho indicado. Nunca havia me passado pela cabeça que Greg fosse bissexual, mas isso fazia bastante sentido pra mim. A maneira como ele me encarou, como ele me aceitou nos seus braços, como ele se abriu fácil comigo, como ele conversava animado comigo, como ele era quente e aconchegante. De fato. Ele era uma pessoa carente demais de afeto. Precisava daquele abraço e no que depender de mim, eu poderia fornecer bem mais do que um abraço. Eu jurei para mim mesmo que nunca magoaria o Greg, independente do que acontecesse de agora em diante. Afinal, eu estava realmente gostando dele.
Subi a trilha com o coração na boca. Ao mesmo tempo que uma chuva começava a cair. Por sorte eu tinha um guarda-chuva embaixo do banco da vespa. Eu não sabia da reação do dele. Ele podia ficar com raiva, me expulsar, pedir espaço, me achar grudento. Minha cabeça ordenava que eu recuasse, meu corpo só me impulsionavam para frente.
Cheguei no mirante e encontrei Greg sozinho lá olhando para o horizonte pensativo. Ele não me viu, subi até a plataforma de observação com calma, não queria assustá-lo. Só queria conversar:



— Gregório? — Chamei com a voz bem clara.
— Como você me achou aqui? Não, eu sei. Peggy te disse não é?
— Foi. Eu queria conversar com você sobre ontem a noite. Te pedir desculpas...
— Desculpas?
— Eu devo ter me excedido, eu só queria dizer que sinto muito.
— Não, você não tem do que se desculpar, eu... Eu que tinha que te pedir desculpas, fui um grosso, deveria ter conversado com você na hora pra evitar essa situação, mas na verdade eu sou um medroso.
— Não tenha medo, pode falar o que você está sentindo, eu vou entender.
— Eu gostei.
— Gostou?
— Eu gostei do seu beijo. Foi sincero, foi natural, gostei do seu corpo aconchegado no meu, gostei de você comigo naquela hora.
— Então Porque?
— Eu tenho medo. Eu não sei se quero estar próximo a alguém assim. Eu tenho medo de usar ou ser usado, tenho medo de tudo isso acabar.
— Greg, eu também gostei. —  Disse me aproximando — Você não precisa ter medo de me usar, pois eu quero isso, eu nunca me senti tão bem. Eu quero isso.
Coloquei minha mão em seu ombro e o apertei gentilmente, puxei ele para cima de mim e nos beijamos. A vista da cidade de Santa Clara era linda. Quando o mundo pode ver nossos lábios se tocando. A Barba do Greg fazia cócegas e me acariciava, me fazia sentir um calor no peito e a desejá-lo cada vez mais e mais. Nos beijamos por mais de meia hora. Sem ninguém para nos incomodar. Era como se eu estivesse com sede a muito tempo, e finalmente tomasse uma garrafa de água gelada.
O tempo seguia devagar, eu sentia o vento, a chuva, o cheiro da grama molhada, uma vertigem gostosa tomou conta do meu corpo. 
Quando nossos lábios se separaram, nos abraçamos e em silêncio, observamos as nuvens darem lugar a um sol poente lindo no horizonte.


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Galeres, esse capítulo foi praticamente reescrito por inteiro, por isso eu dei sangue e suor pra fazer, numa tacada, eu duas partes, Texto e fotos.
Se gostou, comentáriozinho por favor, Um Curti no Face já ajuda. 
Se achou algum errinho Desculpa aí, herrar é umano. 
Grande abraço pra todos vocês
Um Feliz Ano Novo 
e Capitulo 5 agora só em 2013.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

20 coisas sobre Peggy Cindernell

1. O nome completo dela é Peônia Regina Cindernell. Peônia era a flor favorita da mãe dela.

2. Ela tem 27 anos. Faz aniversário em 21 de Setembro, no dia da Árvore.

3. Bebe pelo menos 3 doses de tequila por dia.

4. Quando tinha 12 anos era a menina com maior seios da sua sala. Isso era motivo de chacota, por isso independente do clima, ela sempre usa um casaco ou uma jaqueta.

5. Ela mede 1,65 m. Mas anda sempre de salto, dessa forma ninguém tem noção exata da sua altura.

6. Nunca fez dieta na vida. Mas se ninguém avisa para ela que é hora do almoço, ela passa o dia inteiro sem comer.

7. Ela ama roupas com caveirinhas. Uma vez ela comprou um vestido dois números menores que ela só por que tinha estampa de caveira mexicana.

8. Além de caveiras, ela ama motocicletas. Seu sonho é comprar uma Virago em bom estado. Ela tem o dinheiro para isso, só que como uma moto não ajudaria em nada no bar, prefere investir em coisas mais úteis.

9. Ela tem um "namoro aberto" com um cara que vive na Argentina que aparece uma vez a cada 2 ou 3 anos em Santa Clara. Apesar de não admitir, é por isso que não namora ninguém. O que ela não sabe é que Ele também não fica com ninguém lá.

10. Por causa desse cara ela está a 2 anos sem sexo. O que ela não sabe é que ele também está.

11. Em uma festa Peggy bebeu 2 litros de Rum. Ela acordou com outros 3 casais na mesma cama. Ela tem quase certeza que transou com todos. Mas como ela estava bêbada não gosta de confirmar.

12. Uma vez aos 15 anos, rolou algo semelhante com um grupo de 5 turistas, mas sem rum.

13. Antes da morte do pai ela queria ser uma Música. Ela sabe tocar baixo e guitarra.

14. Ela é formada em direito, mas não fez a prova da OAB porque o bar toma maior parte do seu tempo.

15. Tem parentes em Novo Horizonte e Vila Regina, mas sua mãe na verdade era uma turista americana, de Bridgeport.

16. Na primeira vez que viu Téo, achou ele muito gato e ficou desapontada quando reparou nele secando Greg.

17. Acha que Téo é muito lerdo, ficou espantada quando soube que eles não transaram na primeira semana.

18. Ela acha o Greg bonito, mas quando falam dela com o Greg, ela da risada como se fosse a coisa mais estranha do mundo (Na verdade, seria a coisa mais bizarra do mundo).

19. Modelou por 3 dias. Mas quando um produtor pediu para ela fazer fotos de roupas intima, ela deu o fora e nunca mais pensou em tirar fotos.

20. O Livro favorito dela é "As Vantagens de Ser invisível". O segundo livro favorito dela é "Violeta".

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Capítulo 4 "Romance" Parte 1

Procurei o restinho de coragem que havia me sobrado, desci novamente na cozinha. Bebi a 3ª cerveja da preparação (9 beers no muro e eu ficando muito louco). Sentei no sofá da sala e tentei raciocinar (ok, só sentei no sofá porque raciocinar naquele estado era quase impossível). Peggy disse que eu estava apaixonado. Apaixonado? Eu? Véi na boua. Não! Eu não sou do tipo que se apaixona. Talvez só pelo Gio, mas isso tem quase 5 ou 6 anos e... MEU eu tenho mais o que fazer do que me apaixonar. Afinal o Gregório é só um moleque bobo que tem uma risada deliciosa que...

―  MERDA! Ou eu to bêbado ou a vadia da Peggy tá certa! ―  Virei a cerveja como se fosse água e dei adeus a sobriedade, Status alcoólico: Feliz, capaz de levar a amiga bêbada pra casa, mas incapacitado de tomar qualquer decisão. ―  Nesse caso as duas coisas.


Enfezado, decidi que era agora ou nunca (a cerveja decidiu pra mim, mas tanto faz). Peguei mais duas cervejas na geladeira e subi em direção aos quartos, descalço, sem fazer barulho, como um fantasma, Coloquei meu ouvido na porta e a música ainda ecoava suavemente, apurando mais meus ouvidos escutei que Greg cantava baixinho junto com a música. Nossa, odeio quando as pessoas fazem isso.

Bati na porta, Só tive tempo de escutar alguém se mexendo na cama, como se colocasse alguma roupa as pressas (Ele tava pelaaaaaaado) e escutei um "pode entrar" bem claro. Coloquei só o rosto dentro do quarto a tempo de ver os pelos castanhos de sua barriguinha de pele clarinha sendo cobertos por uma camiseta. O próprio Greg me despertou com um pedido de desculpas:

―  Desculpa, eu estava aqui escutando música e estava meio indecente, A musica não está muito alta, está?
―  Não, quase não dá pra escutar do corredor, eu vim aqui na verdade ―  "porque quero seu corpo nú" pensei ―  porque queria uma companhia para beber. ―  Estiquei-lhe uma das garrafas.
―  Ainda bem que eu não trabalho amanhã ―  Disse abrindo uma das garrafas enquanto me chamava para dentro do quarto.

O quarto do Greg se assemelhava muito a um quarto de casal, afinal era o antigo quarto dos pais dele. Mas havia sim um toque pessoal, principalmente na parte da bagunça, com facilidade encontrei todas as alterações que foram feitas no quarto nos últimos anos.

―  O que você está Escutando? ―  Puxei assunto.
―  Janis ―  Disse erguendo um pouco o volume ―  Amo essa música.

"The Rose" da Janis Joplin. Uma música linda que fala sobre amor de uma maneira sublime mesmo que a primeira vista a letra pareça piegas e brega. Eu conhecia essa música bem porque ela fazia parte da trilha sonora de um filme que assisti com o Gio no primeiro ano da faculdade e... O Greg começou a cantar a música baixinho com um Inglês sofrível. Próximo assunto por favor!

―  Os bons sempre morrem aos 27 no final das contas. ―  NERD!
―  Como assim? ―  Greg não captou.
―  Janis, Kurt Cobain, Hendrix, Amy Winehouse, todos eles morreram aos 27 anos.
―  Sério? Não sabia. Você é muito inteligente mesmo hein ―  "não é ser inteligente, é ter cultura" seria minha resposta padrão, mas de alguma forma ele me deixava mais tolerante e barrava meu lado violento, com aquela gargalhada levada dele ―  Melhor eu me apressar em fazer tudo que eu quero, ano que vem eu faço 27. Mas me diga, o que você veio fazer em Santa Clara? Veio passar uma temporada no litoral? A cidade não tem nenhuma praia boa. Quem gosta de praia geralmente vai pra Vila Regina ou Novo Horizonte.
―  Não eu não gosto de praia, e Santa Clara está bem desse jeito na minha opinião ―  Consegui arrancar um sorriso de simpatia do Greg.
―  Achei que você tivesse vindo pra cá buscando um emprego no Laboratório ou no Estúdio. 
―  Estúdio?
―  É, Aqui em Santa Clara fica a sede da TV regional, eles também gravam alguns comerciais por aqui.
―  E porque você achou isso?
―  Porque... Bem... ―  Ele fica lindo quando fica sem jeito, deu um sorriso de como quem não consegue achar as palavras corretas para se expressar ―  Você é muito bem apanhado.
―  Nossa! Obrigado, minha avó costuma dizer o mesmo ―  Arranquei mais uma risada dele.

Ele me chamou de "Bem apanhado". Claro que considerei um elogio, ele me achava bonito afinal, talvez uma declaração velada de que me acha atraente... THEODORO NÃO VIAJA!
Demos mais uma risada juntos, decidi contar o motivo pelo qual fugi para Santa Clara.

―  Eu precisava fugir por um tempo indeterminado de algumas pessoas que estavam me pressionando, nada a ver com crime ou justiça...
―  Ufa! ―  Ironizou
―  É... Eu sou um escritor...
―  Escritor? Nossa que bacana! Já publicou algum livro?
―  Só um.
―  Qualquer dia vou ler! ―  Quase apontei para a estante de livros ao lado do guarda-roupa e disse "Pode ler, é esse aqui". Por sorte eu estou irreconhecível na minha foto de biografia na orelha do livro.

Greg me contou sobre os livros que gostava de ler, muita coisa que eu já tinha lido, outras que eu leria, mas nada que o definisse como minha alma gêmea literária. Pelo menos acho que ele não desgostaria de ler o "Violeta"...
Greg me contou sobre os livros que o pai dele lia, contou que ganhou um Manual do Jovem escoteiro quando fez sete anos, me mostrou o distintivo com uma flor de Lis preso no casaco de inverno no cabideiro,  e isso serviu de ponte para ele me contar da tragédia que havia ocorrido com a família, da sua relação fraternal com Peggy, que via ela como uma irmã mais velha, que o protegia, contou sobre o Pub, que ele a convenceu a manter e que por causa disso sabia preparar quase todos os drinks do menu. Mas ao mesmo tempo contou que se sentia triste e sozinho a maior parte do tempo preferia ficar isolado, trabalhava quatorze horas por dia e geralmente não gastava dinheiro com supérfluo.

―  Você não se relacionou com ninguém depois da morte dos seus pais? ―  Soltei como uma observação inocente.
―  Sabe, é que eu não quero criar laços. Pelo menos eu acho que não quero. Pode parecer estranho mas eu sinto como se uma vida cheia de amigos, romances, longas histórias de amor e etc. Não fosse algo compatível com minha realidade.

Reconheci em Greg um igual, ele definitivamente não era um coitado, ele só estava cronicamente acostumado a ficar sozinho, acostumado a tal ponto que passou a preferir essa condição.

―  Sabe Greg, o que me faz realmente falta. ―  Falei num tom nostálgico.
―  O que? ―  Disse Greg colocando a ultima garrafa de Stella junto com suas 9 irmãs no canto da cama. Ele se arrumou e encostou as costas na cabeceira da cama onde estávamos.
―  Eu sinto falta de ser acolhido sabe, não que eu queira um relacionamento longo ou coisa do tipo, eu sinto falta de uma coisa simples como o abraço de alguém.
―  O meu serve?

Essa pergunta foi como um tiro a queima roupa. Completamente inesperada. Greg queria me confortar? Ele só poderia estar brincando, não pode ser sério! O que eu faço? Entro na brincadeira? Fujo? Me escondo embaixo da cama? Eu não sei! Meu instinto congelou, meu coração começou a pular rápido. Greg abriu os braços e deu um tapinha no peito me convidando para ser acolhido.

Me deitei de constar em seu peito e coloquei minha cabeça em seu ombro. Ele era quente e aconchegante. Sua barba fazia cócegas no meu pescoço. Nossa como ele era acolhedor, senti que poderia ficar em seus braços por toda a eternidade e nada nem ninguém poderia me ferir. Eu sentia sua respiração, o calor de seu corpo. Nossos corpos estavam juntos e se encaixavam como duas peças de Lego. Eu fiquei entorpecido. Quase inconsciente, levantei meu rosto encostei meus lábios nos dele e o beijei.



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" Final




I'm coming out of my cage
And I've been doing just fine
Gotta gotta be down
Because I want it all

Tocava Mr. Brightside no meu tocador de mp3 naquela semana. Eu sentia que algo podeira acontecer. Algo novo. Por algum motivo eu escutava essa musica repetidamente durante a semana que se seguiu em Santa Clara. A música fala sobre um sentimento de ciúmes do amor recém descoberto.  Estaria eu começando a olhar com outros olhos para o Gregório?

Peggy tem a mania incrível de tentar colocar a gente junto no mesmo cenário. Na segunda feira, um cano do Peggy's estourou. Eu e o Greg fomos obrigados a bancar os bombeiros hidráulicos. E foi essa a primeira vez que o vi sem camisa... Sou moço tímido e acredito no amor.  Tenho certeza que vou acabar sozinho. Ele digamos é bem... Legal... Alguém que trabalha na segurança e tudo mais...

Nos dias seguintes minha rotina em Santa Clara começou a se definir. De manhã exercícios (principalmente depois de ver o Greg sem camisa), depois almoço, Geralmente o lanche de microondas do Peggy's. Durante a tarde: Pesquisa. de duas a quatro horas sentado na biblioteca de Santa Clara, lendo de tudo. A princípio, jornais, uma tentativa desesperada de achar algum incidente trágico ou mistério não solucionado, escrever outro romance de mistério como o Violeta seria maravilhoso. Isso se eu tivesse alguma inspiração. Depois parti para romances históricos, jornais da época da fundação da cidade, mas nenhuma ideia me surgia. A cada novo nuance de uma nova narrativa, eu visualizava também uma crítica do tipo "inferior ao Violeta" ou "Tentativa frustrada de alcançar um novo sucesso". No Final do dia eu só pensava em voltar para casa e desfrutar a banheira. 

Greg sempre estava sozinho, trancado no seu quarto, ou ainda estava fora. Provavelmente vendo o jogo na TV do Peggy's. Curiosamente eu só conseguia dormir quando escutava a porta do quarto dele bater. Nós conversávamos pouco, de fato, Eram conversas do tipo: "Será que hoje chove?" ou "O leite está acabando, se importa de comprar mais uma caixa?". 

Mesmo nesses diálogos curtos e simples eu nunca senti nenhum tipo de indiferença da parte do Greg. Muito pelo contrário. Ele sempre sorria, ele sempre parecia querer puxar um assunto, mas o que lhe faltava para isso? Coragem? Tempo?

― Hoje eu vou fazer um turno a menos, vou ter tempo de lavar a louça. Me desculpa ter feito você lava-la durante quase uma semana. ― Ele disse afinal na primeira sexta feira em que moramos juntos. 
― Tudo bem, eu gosto de lavar louça, me acalma. ― Olhei para a louça que ele tinha acabado de lavar. Vou ter que lavar tudo de novo.
― Á partir de hoje não faço mais o turno da noite. Vou poder cuidar mais daqui.

Respondi com um sorriso. 

Ele saiu.

Hora de invadir. Fazia milênios, que eu não pesquisava a vida de uma pessoa. Olhei os CD's (nada que eu amasse de paixão, muita coisa que eu escutava, mas nenhuma das minhas bandas favoritas), Livros (Puta que pariu, ele tinha uma cópia do Violeta, por sorte reparei que o livro nunca tinha sido lido. No mais, só a boa e velha literatura fantástica e de ficção que eu me julgo burro demais para escrever).
― Stalker! ― tive uma pequena parada cardíaca.

Peggy estava na entrada da sala segurando uma vassoura numa mão e na outra um litro de vodka. 

― Na verdade eu só queria encontrar algum assunto pra falar com ele.
― Que tal fazer isso enquanto me ajuda com a faxina?

Cada um com um pano na mão, fomos tirando limpado a sala:
― Eu me sinto mau de não conhecer o Greg, odeio essa sensação de morar com uma pessoa estranha. Ainda mais depois de conhecer a história dele. ― Tirei todos os CD's do suporte. ― Peggy eu morei com estranhos minha vida toda. Até quando morava com meus pais.
― Conta essa história direito.
― Bom, como posso dizer isso: Meu irmão era uma criança mimada, cresceu e virou um babaca, meus pais se esforçam para ser legal, mas na cabeça deles eu sou a ovelha negra da família porque não sou engenheiro que nem o papai nem médico cardiologista como a mamãe. Eles pagaram minha faculdade de jornalismo esperando que eu me tornasse âncora de um telejornal ou repórter de tevê, mas eu odeio pensar em trabalhar em uma emissora, Então todas as vezes que eu converso com meus pais é a mesma coisa "já arrumou um emprego?", "Arruma essa cara senão nenhuma emissora vai te contratar!", "Seu pai conhece um cara que conhece um cara que pode te arrumar uma posição".
― Nepotismo, UHUL!
― Ai quando eu fiz 18 anos eu dei no pé de casa, meus pais pagavam minha faculdade, meu aluguel, minhas contas, mas minha bebida eu mesmo pagava fazendo trabalho dos outros. Desde então eu morei com até 8 estranhos numa república. Eu digo, eu quero morar com alguém que eu conheça.
―  Eu tenho a solução. Na verdade, Uma dúzia de soluções. Espera aqui.

Peggy saiu, demorou uns 15 minutos e voltou com duas caixinhas de Stella Artois, minha cerveja preferida, Provavelmente a do Greg também:
―  Coloca essa merda pra gelar, a hora que ele tiver trancado no quarto, bate na porta e oferece uma. Não conheço nenhuma história de amizade que começa com uma salada. E Menos ainda uma história de Amor.
― História de amor?
― Admita, você tá gamado nele.

Fiquei quieto, naquela manhã... Durante a tarde... até a noite chegar. Eu não estou gamado nele, eu só quero fazer amizade com ele, só quero conversar com ele. Lógico que ele é um rapaz bonito, mas eu quero entender a dinâmica dele e ter uma convivência sadia com ele. Só isso...

― Só isso...
Sentado na cadeira da escrivaninha do meu quarto, revirando umas anotações, soltei minhas primeiras palavras desde aquela manhã. Escutei a porta batendo, o chuveiro, depois os passos na escada e por ultimo a porta do quarto se fechando.

―  É a hora da verdade.
Desci na cozinha, bebi uma das cervejas (11 faltando), Revisei meus rascunhos, tudo lixo, joguei no lixo do banheiro mesmo, passei na frente do quarto do Greg, musica baixinha saindo da porta. Ergui a mão para bater na porta. Faltou coragem. Desci na cozinha e peguei outra cerveja (10 sobreviventes). Bebi como se fosse água no sofá da sala. Tentei entender o sentido do meu nervosismo e só encontrei uma resposta. Ou eu estava muito bêbado (2 cervejas, não né) ou Peggy tinha razão. Peguei uma terceira cerveja e bebi lentamente, fui até meu quarto. No relógio 22 horas, e ainda tinha música no quarto do Greg.


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Pessoal, muito obrigado por lerem essa historinha que eu to contando,
Quem tá caindo aqui de para-quedas por causa da novelinha Violetta deixa um comentário dizendo quem é melhor =P (Brinks, por favor não faça isso)
Quem tá vindo aqui do blog do Sick, meu eu e a Alice já estamos bolando um Crossover 
Desculpem pela demora em postar, trabalhar 3 turnos é F-O-D-A.
Desculpem pela falta de fotos. Vou ilustrar mais os capítulos futuros, prometo.
E Obrigado por quem realmente lê isso aqui.

See Yaa

sábado, 27 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 4ª Parte

Peggy ergueu a sobrancelha fazendo uma cara de "Sabia que essa pergunta viria mais cedo ou mais tarde".
― Eu vou precisar de alguma ajuda visual pra explicar essa pergunta.
Ela revirou algumas gavetas até encontrar o que procurava. Um porta retrato com uma daquelas fotos de grupo. Um casal com uma com um menino ao lado de um homem ao lado de uma menina. Pedi para segurar   segurar o porta retrato nas mãos. Concluí que aquelas crianças eram Peggy e Greg. Peggy ainda tinha os cabelos ruivos, e as sardas eram mais evidentes, concluí que o homem só poderia ser seu pai. Parecia um desses motoqueiros que a gente só vê em filmes, Tinha uma flor tatuada no braço com algum nome tatuado embaixo não dava para ler, provavelmente era Peônia, o nome da Peggy, isso explica algumas coisas.
O casal ao lado, bem, Ele tinha o mesmo cabelo castanho, bagunçado, mas, tentando se arrumar, ela tinha os mesmos olhos que iam do verde até o azul sem saber direito pra onde correr, a criança era uma fusão perfeita dos dois, mas o sorriso era o mesmo. Greg deveria ter uns 12 anos na foto.



 Reconhece onde essa foto foi tirada?  Disse Peggy.
 Não.
 Pelo amor, você olha pra esse lugar pela janela do quarto onde você dorme.
Agora que Peggy falou, eu prestei mais atenção, Logico que em mais de uma década as flores mudaram e as cercas mudaram de cor, mas aquele era o jardim comunitário que ficava entre a casa do Greg e o bar da Peggy.  Sabe, todo mundo aqui na cidade velha sabe dessa história, se bobear, Santa Clara inteira também.
Peggy apenas pegou dois copos e encheu eles com uma dose de tequila. Ela virou a dela e ficou me encarando esperando que eu virasse a minha. Apenas apontei para o relógio. Não eram nem nove horas da manhã ainda. Ela deu de ombros e virou a minha dose também.
 Essa foto foi tirada quando nos mudamos para a cidade velha. Eu perdi minha mãe quando era muito nova, acho que deveria ter uns 3 anos. Meu pai era filho único também. Os pais do Greg eram pessoas legais, até onde sei o pai do Greg era filho único e a mãe tinha uma irmã que morava no exterior. Ou seja, eramos filhos de famílias pequenas e de certa forma, solitárias. Como eu e o Greg eramos as únicas crianças no quarteirão, nós dois brincávamos naquele jardim e íamos juntos para a escola. Isso fez com que nossas famílias ficassem bem unidas.
Peggy começou a olhar para o fundo do copo, o que me fez segurar a garrafa e colocar ela fora de alcance. Ela apenas suspirou e pegou uma garrafa de vodca e continuou bebendo. 
 Meu pai reformou esse sobradinho para ser um bar no piso térreo e um apartamento em cima. Os pais do Greg tinha uma loja de presentes e usados na cidade nova. Os três faziam parte da câmara de comércio de Santa Clara. Um dia nossos pais tiveram essa reunião na prefeitura. Me lembro que foi um dia depois da festa de 19 anos do Greg, que tinha acabado de passar no concurso da Guarda Civil. Eles estavam retornando pra casa todos no mesmo carro, foram atravessar a ponte que liga a ilha até a cidade velha, veio um caminhão tentando ultrapassar em alta velocidade, e o carro acabou sendo jogado para fora da ponte.
 Nossa... Eu...  Apenas passei a tequila para a Peggy, que bebeu a terceira dose.
 Greg naquele dia virou toda a família que eu tenho. Ele me deu todo o apoio que eu precisei para continuar tocando o bar e em troca, eu ajudei ele a de alguma forma superar a morte dos pais. Eu acabei escondendo essa foto porque, ele sempre ficava encarando ela com lágrimas nos olhos quando vinha aqui. Então eu guardei essa foto, ele guardou as fotos da casa dele e tentamos levar a vida. Eu me formei em Direito, ele resolveu trabalhar 3 turnos como guarda civil e nessa brincadeira se foram quase 7 anos. 
 Vocês não tem nenhum amigo ou parente que vive por perto?
 Bom, eu tenho alguns parentes da minha mãe que vivem em Novo Horizonte, mas não falo com eles a um século. Fora isso eu tenho uns amigos da época da faculdade, mas eles moram na cidade nova, já o Greg, ele sempre foi do tipo solitário eu acabei sendo a única amiga próxima a ele e a unica pessoa que ele realmente confia e se abre. 
 Isso explica muita coisa.
Depois dessa conversa eu entendi um pouco mais sobre a dinâmica do Greg, um homem que perde toda a sua família do nada, acaba preferindo se isolar. Adota um gato, provavelmente um macho, que fugiu quando ficou no cio, fica na esperança dele voltar, por isso não se livra das coisas de gato. A unica amiga da o suporte que pode, Afinal, agora eles tem apenas um ao outro, irmãos de tragédia, o homem está demonstrando traços de depressão, trabalha quase 72 horas por semana, não se relaciona com outras pessoas. A amiga convence ele a alugar um quarto na casa.

 Posso te perguntar uma coisa Peggy? 
 Claro.
 Como você convenceu o Greg a alugar um quarto? 
 Eu não convenci de fato, ele precisava de uma grana extra, reformar o telhado ou coisa do tipo, e eu apenas dei a sugestão, nós estávamos procurando por turistas perdidos, mas quando você com essa cara de pastel me contou que iria passar uma temporada, eu não podeira deixar essa oportunidade passar. 
 Peggy. Obrigado por repartir essa história comigo.
 Imagina, eu senti sua Vibe, você é uma pessoa legal, eu sinto, você vai ser a pessoa certa pro Gregório, meu baralho me disse. Só não diga para aquele meninão que eu te contei essa história. Ele é muito reservado.
 Claro, eu vou respeitar o tempo dele.
Depois de arrumar o Pub, Peggy me ajudou a tirar a vespa do depósito, no final da nossa conversa, ela me deu uma latinha de água tônica, enquanto tomava uma cerveja:
 Se dirigir, não beba!
 Valeu! Só mais uma coisa  Disse tirando a multa da carteira  Onde eu pago isso?
 No escritório de transito, ao lado da prefeitura   Ela pegou a multa da minha mão, analisando o pedaço de papel. Caligrafia do Greg!
Tomei a multa das mãos dela.
 Foi meu presente de boas vindas.
Montei na Vespa, Peggy me deu um tapa nas costas e eu acelerei em direção a Prefeitura.
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Galera na próxima postagem eu termino o capítulo 3. Eu gostaria de saber o que vocês estão achando até aqui. Só falando que tenho até o capitulo 5 escrito, mas decidi ir postando por partes menores para ficar mais fácil de ler. Meu notebook ainda está superaquecendo com o jogo, Mas fotos de cenas chaves já foram tiradas.
Se vocês gostaram, Comentem, Divulguem, Passem adiante.
Obrigado para quem leu tudo até agora

See Ya.

domingo, 14 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 3ª Parte

O fato era o seguinte, eu estava prestes a me tornar colega de quarto de um menino que eu achava muito lindo:
― Esse é o seu quarto ―  Disse ele apontando para uma porta ―  E esse é o meu ―  apontou para a porta próxima ―  E é isso.
Ele abriu a porta do quarto onde eu iria ficar, cama de casal, criado mudo, guarda-roupa, escrivaninha, alguns bonequinhos na estante, inclusive livros didáticos. O quarto inteiro parecia de um colegial. Ok, que armadilha era aquela? A casa definitivamente não pertencia a um rapaz solteiro que aparenta vinte e poucos anos como o Greg. Eu até poderia perguntar alguma coisa, mas meu sono era muito maior.
Eu estava com sono e ao mesmo tempo intrigado, quase esqueci que minha Vespa tinha ficado no estacionamento do bar. Certo, meu clima para investigações havia acabado ali:

― Eu esqueci a minha vespa no estacionamento...
― Sem problema, eu ligo pra Peggy e peço pra ela guardar pra você até amanhã cedo ―  com um tapinha camarada nos ombros, ele saiu e desceu as escadas.
Me sentei na cama e joguei a mochila num canto. Apenas me despi, ficando só de roupas intimas, afundei o rosto no travesseiro. Cheiro de xampu, familiar, eu conhecia esse cheiro de algum lugar, mas estava com tanto sono que não queria lembrar. Criei coragem, peguei apenas minha toalha, sabonete e uma cueca limpa na mochila, espiei pela porta e vi que o corredor estava vazio, fui até o banheiro e não resisti a um belo banho de espuma que tirou toda a poeira do meu corpo. Fiquei uns minutos na banheira onde a água me fez despertar um pouco.
Agucei meus ouvidos e escutei passos na escada, uma porta fechando, um pouco de orações, talvez um choro e silêncio novamente. 


Amanhecia, cheguei na cozinha onde havia uma pilha de louça suja na pia com um bilhete na geladeira escrito "De noite eu lavo". Suspirei, lavei aquela louça, sequei e guardei segundo as instruções me dadas no primeiro dia. Só então fui buscar minha motoneta no Peggy's.

O Bar era sempre sossegado, pela manhã Peônia limpava o chão:
― Sua moto está no depósito, a vizinhança é sossegada, mas não abusa da sorte.
― Pode deixar, vou cuidar bem dela.
― E então, já se instalou no Greg?
― Já.
― Rapidinho você hein ―  Ela deu um risinho maldoso.
― Eu... eu já coloquei minhas coisas no quarto que vou ocupar.
― E quem disse outra coisa?
― Sei...
― O que te incomoda?
― Peggy, posso te chamar assim? 
― Deve.
― Bom, você conhece esse cara a quanto tempo?
― O Gregório? Desde sempre! Crescemos juntos, somos meio que as "crianças da cidade velha".
― O que você pode me falar sobre ele?
― Interessando né?
― Curioso, apenas, em saber na casa de quem eu estou morando.
― Certo. Ele é do tipo bagunceiro, dificilmente termina o que começa, confia muito fácil nas pessoas, vive procurando passatempos ― Mostrou um jornal com as palavras cruzadas feitas pela metade ―  Serviço dele. Ele passa muito pouco tempo em casa, e não gosta muito de se envolver com outras pessoas. Eu acho que sou a unica amiga dele no final das contas.
― Ele fuma?
― Só quando ele bebe muito. Na verdade ele parou de fumar tem um tempinho já. Mas a carteira de cigarro na mesa da sala não é dele se é isso que te aflige.
― E sobre a casa? Porque ele mora numa casa tão grande, tão bem montada. Quero dizer, aquilo não é a casa de um homem solteiro, está mais para uma...
― Casa de Família?

domingo, 7 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 2ª Parte

Ainda na faculdade, comecei a sair com meninos. Até então, só tinha namorado meninas, mas nada duradouro. A primeira pessoa que me fez sentir algo novo e indescritível foi meu primeiro namorado, o nome dele era Giordano. Filho de um italiano, de uma família grande, o típico italiano exagerado que fala gesticulando alto. A presença dele enchia uma sala, e trazia risos e alegria.
Ele tinha uma pele bem clara, e os olhos muito escuros, os cabelos também eram escuros, mas eram grossos e volumosos, só de lembrar do cabelo dele eu fico arrepiado. Ele era gordinho, mas era muito aconchegante e eu achava ele muito atraente.

Fizemos amizade logo nos primeiros dias da faculdade. Costumávamos jogar videogame  na casa dele, sempre tinha churrasco na casa dele, jogávamos truco e todas as atividades sociais típicas da vida universitária. Ele era grande, falava rápido, forte, sentia que ele podeira abraçar o mundo se quisesse.
Certa noite ficamos até tarde da noite jogando videogame. Nós dois teríamos aula na manhã seguinte. Decidi então dormir no sofá da casa dele.
Eu sempre soube que o Giordano era gay, afinal ele nunca escondia isso de ninguém. Ele sempre fazia piadinhas com pernas de jogadores de futebol, esticava o olho para os rapazes da faculdade, tudo com muita ironia e as vezes até maldade.
Naquela noite eu dormia no sofá da sala. Giordano só dormia com o quarto escuro, e eu precisava da TV ligada. Na minha inocência eu estava largado lá de cueca. 
Lembro que acordei com a posta da geladeira abrindo. Giordano apenas com a calça do pijama bebia água direto do jarro, derramando um pouco sobre o peito de maneira displicente. Eu só observava, achando que as sombras da sala me ocultavam, mas um clarão permitiu que Giordano me visse olhando diretamente para ele. Com um sorriso ele se sentou no sofá:
― Sede?   Disse me esticando a jarra.
Eu me endireitei no sofá e peguei a jarra de água da sua mão, mesmo sem sede, bebi um gole de água. Não estava desperto por completo, só fui entender as intenções dele quando era tarde demais. Ele passou os braços por cima do meu ombro e me beijou no pescoço causando uma sensação estranha e nova para mim.
Me senti invadido, violado, tenso e ao mesmo tempo, sua boca gelada e seu corpo quente, suas mãos grandes, a tatuagem no seu peito gerou um clima que me deixou muito excitado.


Minha cabeça dizia "ERRADO", meu corpo dizia "CERTO". Entrei no jogo e me entreguei a ele. Tive minha primeira noite com Giordano. Foi algo tão novo. 
No dia seguinte, ele veio me pedir desculpas, por algum motivo que até hoje não entendo, culpa talvez, medo de perder minha amizade, realmente não me importei. Sei do que gosto e ainda mais sei do que não gosto. Eu gostei daquilo e pronto.
Não havia sentido aquela sensação que senti com o Giordano com qualquer outra namoradinha dos tempos de escola. Nós acabamos emendando um namoro que durou por uns nove meses até que ele transferiu o curso para outro estado. Acabamos perdendo o contato, mas se ele reaparecesse agora... Bem isso seria uma bagunça, eu voltaria para ele, sem dúvida. Bem... isso é uma outra história...

sábado, 6 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 1ª Parte

Gregório destrancou a porta da frente da casa, que na verdade mais parecia um sobradinho desses de filme, com a porta dando direto para a rua. Haviam algumas plantas na frente da casa, com alguns anões de jardim  e uma dessas luminárias de quintal, entre outras decorações. Reparei que as plantas eram do tipo que exigem pouco ou nenhum cuidado e além disso, a grama estava bem alta.
Greg me chamou quando a porta finalmente destrancou, passei por um pequeno hall com a mesinha de telefone, pude vislumbrar uma sala de jantar ao olhar para direita, quadros de bom gosto na parede, uma orquídea na mesa. A casa em si era relativamente organizada. Eu uso o relativamente porque em meus tempos de universitário eu já havia visto lugares que fariam um chiqueiro parecer uma sala de espera de dentista. Certa vez, tive uma crise de limpeza e tirei pelo menos cinco sacos de lixo da sala da república de um amigo meu.
Havia uma fina camada de poeira em alguns campos, sinal de que pelo menos de uma forma despretensiosa alguém limpava a sala, mesmo que com pressa. Na sala a mesa do canto tinha uma planta, uma carteira de cigarros e um cinzeiro com algumas bitucas. Sinal de que Greg fuma? Mas a carteira de cigarros estava com a aparência de não ser tocada por um longo tempo e as cinzas e bitucas eram velhas. Ele não fuma mais?
Um videogame velho do lado da TV, um sofá de dois lugares. A decoração lembrava uma casa de família, mas curiosamente, sem fotos de família. Havia uma almofada no chão, com um daqueles postes onde os gatos afiam as unhas. Greg tinha um gato! Mas a casa não cheirava a gatos. A cozinha era estranhamente bem equipada para um homem solteiro de vinte e poucos anos que mora sozinho. Tinha até mesmo uma fritadeira. A geladeira era bem grande e os armários bem equipados com todo o tipo de panelas. Ok, isso não é uma casa de solteiro comum.
Ele me apresentou todos os espaços da casa apenas apontando na sua direção e dando instruções rápidas de coisas que ele julgava essenciais:
― Pratos na porta de cima, do lado da geladeira, copos na porta do lado, panelas nas portas de baixo. Talheres na gaveta do lado da pia, utensílios na gaveta do lado das dos talheres, pia é no sistema "Quem suja limpa", o mesmo vale para a louça.Okey ― Concordava com tudo sorrindo sem jeito.
― Na geladeira você como o que quiser, menos o meu iogurte. Primeira prateleira é comum, pode pegar o que tiver lá. A segunda é sua, prometo tentar não mexer em nada de lá, a terceira é minha, mas eu não guardo nada que realmente não quero que você mexa. Exceto meu iogurte, eu já disse isso não é?
― Sim...
Ele falava com um sorriso de moleque travesso que me cativava tanto, no primeiro momento que disse que ia não iria mexer nas minhas coisas eu sabia. Ele vai comer tudo que eu colocar naquela prateleira. Fiz uma nota mental de comprar um frigobar assim que meus direitos sobre o Violeta do próximo mês fossem depositados.
Subimos as escadas para o segundo piso onde um corredor estreito dividia o andar ladeado com várias portas, ele apontava para as portas e falava rapidamente do que se tratava o cômodo:
― Aqui é o escritório. Só tem livros e o meu PC antigo, não roda nada, nem photoshop. Aqui é o banheiro do segundo piso. Tem um lá embaixo também. Eu vou deixar esse aqui só pra você usar enquanto eu tomo banho no lá de baixo, já é costume meu, é bem espaçoso, tem até banheira! Só te recomendo não usar junto comigo...  Quer dizer... Eu nesse banheiro e você no outro... ― Ele deu uma engasgada, como quando alguém percebe que falou algo que pode ser interpretado de uma maneira maliciosa. De fato, eu nem havia pensado nisso. Eu tinha entendido perfeitamente o que ele tinha dito, Embora confesso que no fundo eu até tinha gostado da ideia de nós dois na "mesma" banheira.― Eu entendi o que você quis dizer. Pelos canos a água é aquecida à gás e se duas banheiras forem enchidas ao mesmo tempo o aquecedor não da conta e a água quente acaba ― emendei esse raciocínio rápido antes que  ele ficasse mais sem jeito ainda.
Gregório me lembrava vagamente meu primeiro namorado na faculdade. Mas não era na aparência tão pouco na maneira de agir. Gregório me provocava a mesma sensação que ele criava em mim quanto estávamos juntos. Para explicar isso eu preciso voltar no tempo até meu primeiro ano na faculdade.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Notícias e Pedidos.

Gente, coisinhas pra falar.

Tive uns problemas pra fazer as imagens que ilustrarão os capítulos 2 e 3. Meu note anda superaquecendo com o o jogo e desligando sozinho. Mas se tudo der certo em breve eu ilustrarei o capítulo 2 e postarei o capitulo 3 ilustrado.

Sobre o capítulo 3. Ele tem 19 páginas de manuscrito. Isso meninos 19 páginas. Claro que quando digitado a tendência é diminuir para umas 5 páginas, mesmo assim, peço um pouco de paciência que o capítulo 3 logo vem.


E agora o Pedido.

Gente, o blog Ace Creators está fazendo um concurso para eleger seu novo colaborador. Eu venho aqui pedir para todos os leitores do Violeta para votarem na nossa amiga Alice "Ruffles" Ruffo. Ela criou algumas das poses que estão nas ilustrações do Violeta. Portanto eu peço ajuda porque os trabalhos dela são muito bons e merecem o apoio e incentivo de todos nós.

A votação rola até o dia 27 de setembro, você pode votar acessando o site da Ace Creators ou clicando nesse link aqui.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Capítulo 2 "Santa Clara"


Santa Clara é uma cidade de sonho. Aparentemente uma cidade pequena, mas no fundo uma cidade bastante cosmopolita. Eu me assustei quando cheguei aqui. Prédios, casas luxuosas, para alguém metropolitano como eu é normal achar que cidades menores do interior são paradas.
Cheguei na cidade de ônibus, trazendo apenas minha mochila nas costas com algumas roupas mais básicas, minha jaqueta jeans nos ombros, preparado para meu período de isolação começas. Meu celular com o novo número não possuía nenhum contato em sua memória. O que era um alívio.
Santa Clara possui uma região mais sossegada, a cidade velha fundada por colonizadores franceses no final do século XVIII durante as invasões francesas. Uma cidade charmosa, com vários parques e jardins. Minha jornada começou por ali, com uma caminhada em um parque para cães onde crianças se divertiam com seus animais, dando risadas altas e gostosas de serem escutadas, senhores jogando xadrez e dominó. Uma checada no celular, nenhum sinal de wi-fi. Velhos costumes são difíceis de se perder. Eu precisava ver meus e-mails. 
Mais uma caminhada e localizei restaurante, lojas de roupas, armarinhos, mercado, nenhum hotel... Fui caminhando até a Cidade Nova, cerca de uns quarenta minutos andando na minha velocidade normal. A cidade era linda de fato. Prédios altos e imponentes, com um charme de prédios antigos. Restaurantes refinados, alguns clubes, de fato, Santa Clara era uma cidade turística, mas era uma cidade bem cosmopolita. Lá havia um hotel luxuoso, o Gran Hotel, mas eu não estava afim de me hospedar em um lugar tão movimentado, haviam outros hotéis menores e algumas pousadas, mas todas na cidade nova. Infestada de turistas, a cidade nova com seus carros e apartamentos não me atraia nem um pouco.

Caminhando de mochila e jaqueta empoeirada, ombros pesados de cansaço, eu decidi voltar para a cidade velha. Havia passado do meio dia, e eu não tinha almoçado, estava com muita fome, logicamente haviam vários restaurantes na cidade nova, mas... Mas aquele lugar me deixava triste e cheirava a mais do mesmo, fazia-me lembrar exatamente daquilo que eu fugia. Quando passava na frente dos prédios, sentia que a qualquer momento o chefe da editora iria me encontrar juntamente com um crítico do jornal, e ambos iriam me perguntar sobre a data do lançamento do novo livro e depois iriam me chamar para almoçar com suas lindas esposas e filhos, onde ficariam me perguntando sobre minhas fontes e inspirações.
Minha ultima parada na cidade nova foi inesperada . Em frente a uma garagem de carros usados, me deparei com uma Vespa, modelo antigo, provavelmente dos anos 1960, 150 cilindradas, a gasolina, Preta e em excelente estado de conservação. O preço era salgado para o meu paladar. Não estava nos meus orçamentos para a fuga, entretanto, as vendas do Violeta iriam me sustentar por um bom tempo e me permitiam certos luxos como uma fuga para uma cidade desconhecida e uma Vespa.

Comprei a motoneta com um ar triunfantemente, até me esqueci da fome, dirigi a toda velocidade de volta para a cidade velha.
Fazia muito tempo que eu não sentia uma sensação de liberdade tão grande. O vento no rosto e o conforto do veículo, o ar tão fresco da cidade velha, tornavam tudo tão agradável , uma rápida passada na padaria, onde comprei um brioche de presunto e um café para viagem fecharam minha tarde.
Escolho outra praça da cidade bem espaçosa com grandes árvores. Deixei a Vespa estacionada à sombra de uma árvore e caminhei para dentro da praça. Mas sempre tomando cuidado de manter meu veículo ao alcance da minha vista.
Setei-me sob uma árvore em um banco. Pássaros faziam muito barulho nos galhos acima. Me desliguei do mundo. O ar fresco, a risada de alguém ao longe, tudo tão idílico, mau percebi a figura que estava se aproximando da minha Vespa.
Um policial totalmente fardado que fazia a ronda estava parado de costas para mim. Observava a motoneta. A princípio achei que ele estava admirando o veículo, afinal era um modelo antigo e muito lindo, porém reparei que ele estava anotando alguma coisa. Finalmente caiu a fixa. Uma multa.
 Merda, merda, merda, merda, não, não, não, não...   disse no meu tom de voz normal e subindo.
Quando me levantei e fui em direção a Vespa ele já estava longe, Não vi seu rosto, mas reparei bem. Era da minha altura, cabelos castanhos saindo do quépe, aparentemente possuía uma barba, andava com calma, porém com firmeza, de forma que dava para ver seus músculos definidos por baixo do uniforme.
Por alguns minutos fiquei parado observando-o enquanto ele virava a esquina. Quando o perdi de vista, apenas amassei a multa e coloquei-a no bolso.
Rodei mais um pouco pela cidade velha, vi casas e comércios, até visitei alguns lugares na zona rural, havia um clube hípico, uma instalação para camping mas nada de hotel ou pousada. Rodei pela cidade até o tanque da Vespa quase secar. Era comecinho da noite quando me dei por vencido. Cheguei em um cantinho da cidade cheio de casas velhas, chamado Vila do Estúdio, aparentemente um bairro residencial bem sossegado.
Avistei um neon fraquinho na fachada de uma das casas, dizia em letras garrafais Peggy's achei que se tratava de qualquer tipo de comércio familiar, mas a música e as conversas altas denunciaram. Tratava-se de um barzinho. Deixei a motoneta estacionada logo na entrada e entrei no bar. De uma decoração despojada e simpática, lembrando bem um barzinho antigo, um rock clássico dos anos 60, me fez simpatizar com o bar na hora.
Um rapaz de barba e camiseta preta estava numa mesa perto da porta, dois casais jogavam dardos e a balconista eram todos os presentes. Optei por sentar no balcão, necessitava de algumas informações que talvez a moça poderia me dar. Era uma moça nova, provavelmente da minha idade. Cabelos cacheados, tingidos de preto, o que era perceptível devido a sua raiz ruiva nascente. Tinha umas sardas no rosto e trabalhava com afinco atrás do balcão arrumando os copos.
Sentei-me no balcão e pedi uma tônica com gelo e limão, o cansaço do dia caiu nos meus ombros como uma tijolada, eu não sentia mais forças nenhuma e necessitava de um banho e uma cama urgente. Cheguei a considerar qualquer pousada da cidade nova. Pelo espelho atrás das bebidas, eu via o barbudinho bebendo sua cerveja com cara de que não se importava com mais nada, beberiquei minha tônica sem muita vontade.
Meu desejo era cair e dormir lá mesmo. Eu só ia finalizar a bebida e iria dormir. Isso, qualquer banco de praça serviria. Tenho que pagar uma multa por estacionar em local proibido, agora pago outra por vadiagem! Ou quem sabe eu seria preso? Quem sabe eu não dormiria numa cela com um turista bêbado da cidade nova. Ai que saco! Odeio quando começo a viajar assim.

― Moça, com licença ― a bargirl se levantou na hora e veio até mim.
― Em que posso servi-lo?
― Eu precisava de uma informação...
― Sim ele está solteiro.
― Oi? 
― O rapaz que você está encarando na mesa lá ao fundo, ele está solteiro.
― Não não é nada disso que... 
― Desculpa, eu sou impulsiva assim mesmo. Prazer, Peggy.
― Você é a dona do bar então? Melhor ainda você pode me ajudar.
― Sim. E me desculpa pela brincadeira. Sempre faço coisas desse tipo com os rostos novos. 
― Ah, tá. Sem problemas.
― Então em que eu posso te ajudar?
― Você por acaso conhece uma pousada ou hotel aqui perto? Eu sou meio novo na cidade como você percebeu, vim aqui meio que sem planejamento. Fiquei o dia inteiro andando pela cidade e nem vi hotel.
― Quanto tempo você pretende ficar aqui?
― Pra ser sincero, não faço ideia.
― Realmente, você não tem cara de turista. Veio pra cá a trabalho, ou coisa do tipo. Bem na cidade nova tem uma dúzia de hotéis, você pode tentar o Gran Hotel, é o mais luxuoso e caro, não é legal pra tempos indeterminados. Tem umas pousadinhas na praia que são mais baratas. Só cruzar a ponte e ir na cidade nova.
― E aqui na cidade velha?
― Você é um apaixonado pela cidade velha não é? Eu falo que esse bairro tem um charme de subúrbio de Paris, misturado com Brooklin de Nova York e um quê de Lapa carioca, mas no fundo é só a Velha Santa Clara.
― Percebi isso mesmo ― disse com um sorriso ― Amei essa parte da cidade. Por mim eu ficaria aqui por uns longos anos.
― Simpatizei com você e acho que posso tornar seu desejo realidade. ― Ela suspendeu o corpo para cima do balcão até se sentar nele. ― Gregório, chega no escritório. ― Escorregou de volta para detrás do balcão.
Gregório, era esse o nome dele. O rapaz tinha um rosto simático, uma barba lustrosa e curta emoldurando um sorriso belo e inocente. 
Sua camiseta preta permitia ver seu corpo bem cuidado. Ombros largos e um pescoço forte. Era difícil não olhar para ele com interesse. O calo castanho dourado brilhava sobre as luzes incandescentes do bar. Ele puxou o banco ao meu lado, colocou sua long neck em cima do balcão e com uma voz de moço disse:
― Eai Peônia, o que foi?
― Já disse que meu nome é Peggy. Peônia é aquela flor tosca que fica no canteiro da sua vó!
Gregório soltou uma risada gostosa, que lembrava uma criança que terminou de fazer alguma travessura:
― Greg, é o seguinte, esse aqui é o... Qual seu nome mesmo?
― Theodoro, Téo.
― Téo ― Disse apontando para mim, o que me fez ganhar um aperto de mão dele ― Ele vai passar uma temporada e não tem grana pra ficar no Gran Hotel, ou não quer... Tanto faz! Você ainda está procurando alguém pra alugar um quarto na sua casa?
― É eu... Ainda estou. ― Com seus olhos azuis, ele me analisou por completo, e eu estava lá, desarmado, enquanto ele me dissecava. Ele era realmente muito lindo, é lindo demais pra ter algum interesse em mim. Meu velho costume de super estimar as pessoas, me colocar como inferior, eu odeio isso, preciso parar ― Então... ― Disse ele finalmente olhando pra mim
― Prazer... Theodoro. ― Estendi a mão meio sem jeito.
― Pastel ― Suspirou Peggy.
Greg deu uma gargalhada, e eu ri de nervosismo:
― Bom, eu acho que se você não saiu correndo depois disso, você consegue suportar as brincadeiras toscas do Greg ― Disse a Peggy.
― Aqui tem uma foto do quarto e o valor do aluguel é esse aqui. Só peço o primeiro mês adiantado. ― Completou Greg.
O quarto aparentava ser confortável, e o preço era razoável. Pelo menos meu cansaço e o pó da minha jaqueta diziam que era.  
― Eu fico com ele, só que só vou poder sacar dinheiro pra te pagar amanhã.
― Lógico que sim. Vamos, eu te mostro o quarto, Peggy, pendura o dele na minha conta.
― Você deveria trabalhar aqui como escravo pra pagar sua conta Gregório!
― Não seja má Peônia
Peggy mostrou o dedo do meio com esse comentário.
― Vamos ― Disse Greg levantando, quando do nada me dei conta, estava com uma calça de uniforme de polícia, a jaqueta e o quépe estavam no banco de onde ele tinha saido.
Eu tinha encontrado o policial que havia me multado.