sábado, 29 de dezembro de 2012

Capítulo 4 "Romance" Parte 2 Final.

Meu beijo com Gregório durou pouco tempo, mas para mim, foi como se séculos tivessem se passado. Tudo estava muito perfeito. Eu, ele de pijama, nós dois quase bêbados de cerveja, sentados na cama dele. Tudo caminhava para uma noite maravilhosa, mas foi quando eu senti os músculos do rosto dele ficarem tensos. De uma maneira delicada e educada ele me afastou e se levantou. Saiu da cama pelo lado oposto de onde eu estava dando a entender que estava cansado ou indisposto ou até mesmo desconfortável com a situação. No fundo eu acho que ele estava os três...

Sem reação eu caminhei para a porta do quarto e sem saber o que fazer apenas disse:

— Desculpa... Eu... Vou deixar você dormir...

Saí rápido e a passos largos sem olhar para trás, entrei no meu quarto, num misto de vergonha e arrependimento, pulei na cama e lá fiquei revirando até conseguir pegar no sono, o que demorou pois a ultima vez que olhei no relógio, já eram mais de 5 horas. 

No dia seguinte, acordei com o sol nos meus olhos, morto e com uma ressaca moral terrível, o relógio acusava quase meio dia. Desci as escadas de cueca, sem sequer pensar na possibilidade do Greg estar lá embaixo. Eu precisava com urgência de um cigarro. 


Roubei um do Gregório que estava na mesinha da sala mesmo e fui para o quintal fumar. Não era da marca que eu costumo fumar, mas serviu ao propósito de me acalmar:

 Ô lá em casa! 
Essa cantada me fez voltar a realidade. Sua autora, Peônia Cindernell estava recolhendo as garrafas deixadas no pátio dos fundos do Peggy's que por acaso fazia divisa com os fundos da casa do Greg. Só então a ficha de que eu estava de cueca caiu, eu torci para que a mureta que separava ambos os quintais tivesse me ocultado da cintura para baixo:
 Almoça comigo?  Gritou Peggy.
 Só nós dois?
 Pode ser.
 Vou colocar uma roupa e vou até aí. 



O Peggy's ainda estava fechado, mas uma das mesas estava posta com uma toalha, pratos e uma apetitosa travessa de escondidinho carne moída com batata e outra com uma salada verde:
 Eu curto cozinhar, mas detesto comer sozinha. O Greg vai trabalhar o dia todo hoje.
Respirei fundo:
 Peggy, sobre ontem a noite...
 Uuuuuuuuuiii! Conta, conta, conta!
— Eu acho que fiz merda.
— Discorra.

Contei a noite anterior com riqueza de detalhes. Dos planos, medos, intenções e do desfecho frustrante:
—  Sa-fa-di-nho.
— Meu sério, foi muito estranho e agora ele vai querer colocar uma cerca elétrica ao redor dele. Achei um milagre minhas coisas não estarem amontoadas na porta hoje cedo. Eu com certeza ultrapassei os limites.
— Não, não ultrapassou não. Eu conheço o Gregório, Se ele fez isso provavelmente é porque ele também está tão confuso quanto você.
— Por acaso eu sou o primeiro homem dele?
Peggy riu como se eu tivesse dito a coisa mais idiota do mundo:
— O que foi?
— Lembra quanto eu te apresentei o Gregório?
— Se lembro? Eu queria me esconder debaixo do banco com aquela encarada que ele me deu.
— Aquilo se chama "Quem come".
— Oi?
— "Quem come". Funciona assim, nós dois encaramos uma pessoa, e aquele que receber mais atenção é sinal de que a pessoa prefere morenos ou ruivas. 
— Brincadeira idiota.
— Nós brincávamos disso quando tínhamos sei lá... Quinze anos. O que eu quero que você entenda é que não é fácil ser uma criança da Cidade Velha. 
— Agora discorre você rapariga.
— Bom. Vila Regina e Novo Horizonte têm várias praias. Mas só isso. Santa Clara tem as melhores escolas, hospital, fábricas, centro comercial desenvolvido e uma rede hoteleira descente. A cidade é dividida entre a Cidade Nova, onde tem tudo isso, e a Cidade Velha, que é esse charme que você vê. Cheia de passeios praças, parques Algumas cantinas e o Peggy's. Mas na maioria quem mora aqui na cidade velha são casais de Idosos ou aposentados. Quando você cresce na cidade velha, você acaba tendo pouco contato com diferentes, mesmo morando numa cidade turística. Os turistas frequentam mesmo é a Cidade Nova, onde ficam as baladas, o Gran Hotel e os terminais rodoviários para fora da cidade. 
"Mas isso não quer dizer que as crianças da cidade velha não amadurecem ou são caipiras. Nós crescemos diferente. Eu e Greg tinhamos um pequeno grupo de pessoas escolhidas a dedo, todos moravam nas proximidades da cidade velha. Cada passeio, cada parque, cada praça, até mesmo os morros e a zona rural eram nossos quintais. E como tínhamos o melhor espaço, aprendemos a ser seletivos. Gostávamos da melhor música, das melhores comidas, das melhores bebidas e até mesmo as melhores pessoas na hora de nos apaixonarmos." 
"De fato, as coisas poderiam ser rápidas ou devagar, mas eram feitas com as pessoas certas, eram preciosas, aconteciam no seu tempo. Eu nunca precisei ir numa festa e beijar 20 garotos pra impressionar alguma idiota na escola. A cidade velha era nosso paraíso. Criamos um santuário onde aqueles que queriam se sentir aceitos e aceitavam bem os outros conseguiam viver em paz. No meio disso tudo, Greg era o garoto mais quieto e na dele. Todos achavam que ele era pelo menos cinco anos mais velho do que ele realmente era, afinal não é fácil ser o mais alto e ter barba desde os quatorze anos. Ele era bem quieto e calado. Mas era parceiro. O problema do Gregório é que ele se envolve com as pessoas muito facilmente e de uma maneira muito profunda e muito rápida. De fato pra você transar com ele basta apenas algumas horas de conversa e se mostrar interessado nisso. Eu vi ele ir pra cama a primeira vez com quinze anos numa festinha com uma garota que só queria se divertir. Mas depois ele ficou magoado quando ela desapareceu. No final das contas, ele disse que só queria 'passar o tempo'. No ano seguinte ele foi pra cama com um turista de dezenove anos porque queria 'curtir a experiência' mas eu sei que ele ficou muito chateado quando o menino foi embora."
— Então ele é do tipo que se apega fácil as pessoas?
— Exato.
Um sentimento de culpa surgiu em mim. Eu iria embora de Santa Clara assim que algum lampejo de criatividade surgisse em mim, assim que eu tivesse algo para mostrar pro meu editor e finalmente pudesse respirar. Eu nunca tinha parado pra pensar o que faria com Greg ou Peggy depois disso. Provavelmente visitá-los nas férias ou coisa do tipo. 
— E porque você acha que dessa vez ele não quis se envolver comigo?
— Bom, desde que os pais dele morreram, ele mudou um pouco o jeito dele de ser. Não raramente eu encontro vestígios de outras pessoas visitando o quarto dele, mas, quando eu pergunto, ele nega ou desconversa. Ele afasta pessoas estranhas e pra ser sincera eu não creio que ele saiba o nome de um terço das pessoas com quem ele vai pra cama.
— Então ele não fica com ninguém por receio das pessoas se afastarem?
— Não sei se é receio, medo das pessoas irem embora, só sei que não pode ser culpa sua.
— O Fato Peggy, é que eu beijei ele e ele se afastou. Ele não deve ter gostado ou deve estar com raiva.
— Ele só deve estar pensando.
— Em quê?
— Téo, Greg é uma pessoa ótima, mas é muito solitário. Ele vive sozinho a muito tempo e dificilmente confia em alguém. Mas é só conversar com ele que você nota que no fundo Greg é só uma pessoa extremamente carente de afeto.

Carente de afeto. Mais uma vez, Peggy colocou Greg como meu igual. Nós dois, carentes, solitários, cada um a sua maneira, desejando apenas estar com alguém que nos acolha. O eterno problema das pessoas carentes é achar que qualquer rejeição é sua culpa. Esquecer que existem duas pessoas em uma relação, cada uma com suas dinâmicas diferentes, problemas diferentes. Eu queria entender o problema do Greg, eu queria ajuda-lo a resolver esse problema, eu queria estar com ele.
— Onde ele estaria pensando Peggy?
— Quando alguma coisa aflige muito o Greg, ele vai até o velho mirante abandonado no morro de Santa Clara. Ele senta no mirante e fica olhando a cidade por horas. Provavelmente ele vai pra lá depois do trabalho. 
— Onde é isso?
—  Segue a avenida da cidade velha até a estrada que leva pra zona rural, você vai encontrar uma trilha ao lado direito da estrada que sobe o morro. É só seguir.
— Vou resolver isso agora.

Peguei minha vespa e segui o caminho indicado. Nunca havia me passado pela cabeça que Greg fosse bissexual, mas isso fazia bastante sentido pra mim. A maneira como ele me encarou, como ele me aceitou nos seus braços, como ele se abriu fácil comigo, como ele conversava animado comigo, como ele era quente e aconchegante. De fato. Ele era uma pessoa carente demais de afeto. Precisava daquele abraço e no que depender de mim, eu poderia fornecer bem mais do que um abraço. Eu jurei para mim mesmo que nunca magoaria o Greg, independente do que acontecesse de agora em diante. Afinal, eu estava realmente gostando dele.
Subi a trilha com o coração na boca. Ao mesmo tempo que uma chuva começava a cair. Por sorte eu tinha um guarda-chuva embaixo do banco da vespa. Eu não sabia da reação do dele. Ele podia ficar com raiva, me expulsar, pedir espaço, me achar grudento. Minha cabeça ordenava que eu recuasse, meu corpo só me impulsionavam para frente.
Cheguei no mirante e encontrei Greg sozinho lá olhando para o horizonte pensativo. Ele não me viu, subi até a plataforma de observação com calma, não queria assustá-lo. Só queria conversar:



— Gregório? — Chamei com a voz bem clara.
— Como você me achou aqui? Não, eu sei. Peggy te disse não é?
— Foi. Eu queria conversar com você sobre ontem a noite. Te pedir desculpas...
— Desculpas?
— Eu devo ter me excedido, eu só queria dizer que sinto muito.
— Não, você não tem do que se desculpar, eu... Eu que tinha que te pedir desculpas, fui um grosso, deveria ter conversado com você na hora pra evitar essa situação, mas na verdade eu sou um medroso.
— Não tenha medo, pode falar o que você está sentindo, eu vou entender.
— Eu gostei.
— Gostou?
— Eu gostei do seu beijo. Foi sincero, foi natural, gostei do seu corpo aconchegado no meu, gostei de você comigo naquela hora.
— Então Porque?
— Eu tenho medo. Eu não sei se quero estar próximo a alguém assim. Eu tenho medo de usar ou ser usado, tenho medo de tudo isso acabar.
— Greg, eu também gostei. —  Disse me aproximando — Você não precisa ter medo de me usar, pois eu quero isso, eu nunca me senti tão bem. Eu quero isso.
Coloquei minha mão em seu ombro e o apertei gentilmente, puxei ele para cima de mim e nos beijamos. A vista da cidade de Santa Clara era linda. Quando o mundo pode ver nossos lábios se tocando. A Barba do Greg fazia cócegas e me acariciava, me fazia sentir um calor no peito e a desejá-lo cada vez mais e mais. Nos beijamos por mais de meia hora. Sem ninguém para nos incomodar. Era como se eu estivesse com sede a muito tempo, e finalmente tomasse uma garrafa de água gelada.
O tempo seguia devagar, eu sentia o vento, a chuva, o cheiro da grama molhada, uma vertigem gostosa tomou conta do meu corpo. 
Quando nossos lábios se separaram, nos abraçamos e em silêncio, observamos as nuvens darem lugar a um sol poente lindo no horizonte.


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Galeres, esse capítulo foi praticamente reescrito por inteiro, por isso eu dei sangue e suor pra fazer, numa tacada, eu duas partes, Texto e fotos.
Se gostou, comentáriozinho por favor, Um Curti no Face já ajuda. 
Se achou algum errinho Desculpa aí, herrar é umano. 
Grande abraço pra todos vocês
Um Feliz Ano Novo 
e Capitulo 5 agora só em 2013.

Um comentário:

  1. Que bom que já estamos em 2013 pq estou super ansiosa pelo capítulo 5!!
    Poste logo Jorge!!!

    Beijooos

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