sábado, 27 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 4ª Parte

Peggy ergueu a sobrancelha fazendo uma cara de "Sabia que essa pergunta viria mais cedo ou mais tarde".
― Eu vou precisar de alguma ajuda visual pra explicar essa pergunta.
Ela revirou algumas gavetas até encontrar o que procurava. Um porta retrato com uma daquelas fotos de grupo. Um casal com uma com um menino ao lado de um homem ao lado de uma menina. Pedi para segurar   segurar o porta retrato nas mãos. Concluí que aquelas crianças eram Peggy e Greg. Peggy ainda tinha os cabelos ruivos, e as sardas eram mais evidentes, concluí que o homem só poderia ser seu pai. Parecia um desses motoqueiros que a gente só vê em filmes, Tinha uma flor tatuada no braço com algum nome tatuado embaixo não dava para ler, provavelmente era Peônia, o nome da Peggy, isso explica algumas coisas.
O casal ao lado, bem, Ele tinha o mesmo cabelo castanho, bagunçado, mas, tentando se arrumar, ela tinha os mesmos olhos que iam do verde até o azul sem saber direito pra onde correr, a criança era uma fusão perfeita dos dois, mas o sorriso era o mesmo. Greg deveria ter uns 12 anos na foto.



 Reconhece onde essa foto foi tirada?  Disse Peggy.
 Não.
 Pelo amor, você olha pra esse lugar pela janela do quarto onde você dorme.
Agora que Peggy falou, eu prestei mais atenção, Logico que em mais de uma década as flores mudaram e as cercas mudaram de cor, mas aquele era o jardim comunitário que ficava entre a casa do Greg e o bar da Peggy.  Sabe, todo mundo aqui na cidade velha sabe dessa história, se bobear, Santa Clara inteira também.
Peggy apenas pegou dois copos e encheu eles com uma dose de tequila. Ela virou a dela e ficou me encarando esperando que eu virasse a minha. Apenas apontei para o relógio. Não eram nem nove horas da manhã ainda. Ela deu de ombros e virou a minha dose também.
 Essa foto foi tirada quando nos mudamos para a cidade velha. Eu perdi minha mãe quando era muito nova, acho que deveria ter uns 3 anos. Meu pai era filho único também. Os pais do Greg eram pessoas legais, até onde sei o pai do Greg era filho único e a mãe tinha uma irmã que morava no exterior. Ou seja, eramos filhos de famílias pequenas e de certa forma, solitárias. Como eu e o Greg eramos as únicas crianças no quarteirão, nós dois brincávamos naquele jardim e íamos juntos para a escola. Isso fez com que nossas famílias ficassem bem unidas.
Peggy começou a olhar para o fundo do copo, o que me fez segurar a garrafa e colocar ela fora de alcance. Ela apenas suspirou e pegou uma garrafa de vodca e continuou bebendo. 
 Meu pai reformou esse sobradinho para ser um bar no piso térreo e um apartamento em cima. Os pais do Greg tinha uma loja de presentes e usados na cidade nova. Os três faziam parte da câmara de comércio de Santa Clara. Um dia nossos pais tiveram essa reunião na prefeitura. Me lembro que foi um dia depois da festa de 19 anos do Greg, que tinha acabado de passar no concurso da Guarda Civil. Eles estavam retornando pra casa todos no mesmo carro, foram atravessar a ponte que liga a ilha até a cidade velha, veio um caminhão tentando ultrapassar em alta velocidade, e o carro acabou sendo jogado para fora da ponte.
 Nossa... Eu...  Apenas passei a tequila para a Peggy, que bebeu a terceira dose.
 Greg naquele dia virou toda a família que eu tenho. Ele me deu todo o apoio que eu precisei para continuar tocando o bar e em troca, eu ajudei ele a de alguma forma superar a morte dos pais. Eu acabei escondendo essa foto porque, ele sempre ficava encarando ela com lágrimas nos olhos quando vinha aqui. Então eu guardei essa foto, ele guardou as fotos da casa dele e tentamos levar a vida. Eu me formei em Direito, ele resolveu trabalhar 3 turnos como guarda civil e nessa brincadeira se foram quase 7 anos. 
 Vocês não tem nenhum amigo ou parente que vive por perto?
 Bom, eu tenho alguns parentes da minha mãe que vivem em Novo Horizonte, mas não falo com eles a um século. Fora isso eu tenho uns amigos da época da faculdade, mas eles moram na cidade nova, já o Greg, ele sempre foi do tipo solitário eu acabei sendo a única amiga próxima a ele e a unica pessoa que ele realmente confia e se abre. 
 Isso explica muita coisa.
Depois dessa conversa eu entendi um pouco mais sobre a dinâmica do Greg, um homem que perde toda a sua família do nada, acaba preferindo se isolar. Adota um gato, provavelmente um macho, que fugiu quando ficou no cio, fica na esperança dele voltar, por isso não se livra das coisas de gato. A unica amiga da o suporte que pode, Afinal, agora eles tem apenas um ao outro, irmãos de tragédia, o homem está demonstrando traços de depressão, trabalha quase 72 horas por semana, não se relaciona com outras pessoas. A amiga convence ele a alugar um quarto na casa.

 Posso te perguntar uma coisa Peggy? 
 Claro.
 Como você convenceu o Greg a alugar um quarto? 
 Eu não convenci de fato, ele precisava de uma grana extra, reformar o telhado ou coisa do tipo, e eu apenas dei a sugestão, nós estávamos procurando por turistas perdidos, mas quando você com essa cara de pastel me contou que iria passar uma temporada, eu não podeira deixar essa oportunidade passar. 
 Peggy. Obrigado por repartir essa história comigo.
 Imagina, eu senti sua Vibe, você é uma pessoa legal, eu sinto, você vai ser a pessoa certa pro Gregório, meu baralho me disse. Só não diga para aquele meninão que eu te contei essa história. Ele é muito reservado.
 Claro, eu vou respeitar o tempo dele.
Depois de arrumar o Pub, Peggy me ajudou a tirar a vespa do depósito, no final da nossa conversa, ela me deu uma latinha de água tônica, enquanto tomava uma cerveja:
 Se dirigir, não beba!
 Valeu! Só mais uma coisa  Disse tirando a multa da carteira  Onde eu pago isso?
 No escritório de transito, ao lado da prefeitura   Ela pegou a multa da minha mão, analisando o pedaço de papel. Caligrafia do Greg!
Tomei a multa das mãos dela.
 Foi meu presente de boas vindas.
Montei na Vespa, Peggy me deu um tapa nas costas e eu acelerei em direção a Prefeitura.
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Galera na próxima postagem eu termino o capítulo 3. Eu gostaria de saber o que vocês estão achando até aqui. Só falando que tenho até o capitulo 5 escrito, mas decidi ir postando por partes menores para ficar mais fácil de ler. Meu notebook ainda está superaquecendo com o jogo, Mas fotos de cenas chaves já foram tiradas.
Se vocês gostaram, Comentem, Divulguem, Passem adiante.
Obrigado para quem leu tudo até agora

See Ya.

domingo, 14 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 3ª Parte

O fato era o seguinte, eu estava prestes a me tornar colega de quarto de um menino que eu achava muito lindo:
― Esse é o seu quarto ―  Disse ele apontando para uma porta ―  E esse é o meu ―  apontou para a porta próxima ―  E é isso.
Ele abriu a porta do quarto onde eu iria ficar, cama de casal, criado mudo, guarda-roupa, escrivaninha, alguns bonequinhos na estante, inclusive livros didáticos. O quarto inteiro parecia de um colegial. Ok, que armadilha era aquela? A casa definitivamente não pertencia a um rapaz solteiro que aparenta vinte e poucos anos como o Greg. Eu até poderia perguntar alguma coisa, mas meu sono era muito maior.
Eu estava com sono e ao mesmo tempo intrigado, quase esqueci que minha Vespa tinha ficado no estacionamento do bar. Certo, meu clima para investigações havia acabado ali:

― Eu esqueci a minha vespa no estacionamento...
― Sem problema, eu ligo pra Peggy e peço pra ela guardar pra você até amanhã cedo ―  com um tapinha camarada nos ombros, ele saiu e desceu as escadas.
Me sentei na cama e joguei a mochila num canto. Apenas me despi, ficando só de roupas intimas, afundei o rosto no travesseiro. Cheiro de xampu, familiar, eu conhecia esse cheiro de algum lugar, mas estava com tanto sono que não queria lembrar. Criei coragem, peguei apenas minha toalha, sabonete e uma cueca limpa na mochila, espiei pela porta e vi que o corredor estava vazio, fui até o banheiro e não resisti a um belo banho de espuma que tirou toda a poeira do meu corpo. Fiquei uns minutos na banheira onde a água me fez despertar um pouco.
Agucei meus ouvidos e escutei passos na escada, uma porta fechando, um pouco de orações, talvez um choro e silêncio novamente. 


Amanhecia, cheguei na cozinha onde havia uma pilha de louça suja na pia com um bilhete na geladeira escrito "De noite eu lavo". Suspirei, lavei aquela louça, sequei e guardei segundo as instruções me dadas no primeiro dia. Só então fui buscar minha motoneta no Peggy's.

O Bar era sempre sossegado, pela manhã Peônia limpava o chão:
― Sua moto está no depósito, a vizinhança é sossegada, mas não abusa da sorte.
― Pode deixar, vou cuidar bem dela.
― E então, já se instalou no Greg?
― Já.
― Rapidinho você hein ―  Ela deu um risinho maldoso.
― Eu... eu já coloquei minhas coisas no quarto que vou ocupar.
― E quem disse outra coisa?
― Sei...
― O que te incomoda?
― Peggy, posso te chamar assim? 
― Deve.
― Bom, você conhece esse cara a quanto tempo?
― O Gregório? Desde sempre! Crescemos juntos, somos meio que as "crianças da cidade velha".
― O que você pode me falar sobre ele?
― Interessando né?
― Curioso, apenas, em saber na casa de quem eu estou morando.
― Certo. Ele é do tipo bagunceiro, dificilmente termina o que começa, confia muito fácil nas pessoas, vive procurando passatempos ― Mostrou um jornal com as palavras cruzadas feitas pela metade ―  Serviço dele. Ele passa muito pouco tempo em casa, e não gosta muito de se envolver com outras pessoas. Eu acho que sou a unica amiga dele no final das contas.
― Ele fuma?
― Só quando ele bebe muito. Na verdade ele parou de fumar tem um tempinho já. Mas a carteira de cigarro na mesa da sala não é dele se é isso que te aflige.
― E sobre a casa? Porque ele mora numa casa tão grande, tão bem montada. Quero dizer, aquilo não é a casa de um homem solteiro, está mais para uma...
― Casa de Família?

domingo, 7 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 2ª Parte

Ainda na faculdade, comecei a sair com meninos. Até então, só tinha namorado meninas, mas nada duradouro. A primeira pessoa que me fez sentir algo novo e indescritível foi meu primeiro namorado, o nome dele era Giordano. Filho de um italiano, de uma família grande, o típico italiano exagerado que fala gesticulando alto. A presença dele enchia uma sala, e trazia risos e alegria.
Ele tinha uma pele bem clara, e os olhos muito escuros, os cabelos também eram escuros, mas eram grossos e volumosos, só de lembrar do cabelo dele eu fico arrepiado. Ele era gordinho, mas era muito aconchegante e eu achava ele muito atraente.

Fizemos amizade logo nos primeiros dias da faculdade. Costumávamos jogar videogame  na casa dele, sempre tinha churrasco na casa dele, jogávamos truco e todas as atividades sociais típicas da vida universitária. Ele era grande, falava rápido, forte, sentia que ele podeira abraçar o mundo se quisesse.
Certa noite ficamos até tarde da noite jogando videogame. Nós dois teríamos aula na manhã seguinte. Decidi então dormir no sofá da casa dele.
Eu sempre soube que o Giordano era gay, afinal ele nunca escondia isso de ninguém. Ele sempre fazia piadinhas com pernas de jogadores de futebol, esticava o olho para os rapazes da faculdade, tudo com muita ironia e as vezes até maldade.
Naquela noite eu dormia no sofá da sala. Giordano só dormia com o quarto escuro, e eu precisava da TV ligada. Na minha inocência eu estava largado lá de cueca. 
Lembro que acordei com a posta da geladeira abrindo. Giordano apenas com a calça do pijama bebia água direto do jarro, derramando um pouco sobre o peito de maneira displicente. Eu só observava, achando que as sombras da sala me ocultavam, mas um clarão permitiu que Giordano me visse olhando diretamente para ele. Com um sorriso ele se sentou no sofá:
― Sede?   Disse me esticando a jarra.
Eu me endireitei no sofá e peguei a jarra de água da sua mão, mesmo sem sede, bebi um gole de água. Não estava desperto por completo, só fui entender as intenções dele quando era tarde demais. Ele passou os braços por cima do meu ombro e me beijou no pescoço causando uma sensação estranha e nova para mim.
Me senti invadido, violado, tenso e ao mesmo tempo, sua boca gelada e seu corpo quente, suas mãos grandes, a tatuagem no seu peito gerou um clima que me deixou muito excitado.


Minha cabeça dizia "ERRADO", meu corpo dizia "CERTO". Entrei no jogo e me entreguei a ele. Tive minha primeira noite com Giordano. Foi algo tão novo. 
No dia seguinte, ele veio me pedir desculpas, por algum motivo que até hoje não entendo, culpa talvez, medo de perder minha amizade, realmente não me importei. Sei do que gosto e ainda mais sei do que não gosto. Eu gostei daquilo e pronto.
Não havia sentido aquela sensação que senti com o Giordano com qualquer outra namoradinha dos tempos de escola. Nós acabamos emendando um namoro que durou por uns nove meses até que ele transferiu o curso para outro estado. Acabamos perdendo o contato, mas se ele reaparecesse agora... Bem isso seria uma bagunça, eu voltaria para ele, sem dúvida. Bem... isso é uma outra história...

sábado, 6 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 1ª Parte

Gregório destrancou a porta da frente da casa, que na verdade mais parecia um sobradinho desses de filme, com a porta dando direto para a rua. Haviam algumas plantas na frente da casa, com alguns anões de jardim  e uma dessas luminárias de quintal, entre outras decorações. Reparei que as plantas eram do tipo que exigem pouco ou nenhum cuidado e além disso, a grama estava bem alta.
Greg me chamou quando a porta finalmente destrancou, passei por um pequeno hall com a mesinha de telefone, pude vislumbrar uma sala de jantar ao olhar para direita, quadros de bom gosto na parede, uma orquídea na mesa. A casa em si era relativamente organizada. Eu uso o relativamente porque em meus tempos de universitário eu já havia visto lugares que fariam um chiqueiro parecer uma sala de espera de dentista. Certa vez, tive uma crise de limpeza e tirei pelo menos cinco sacos de lixo da sala da república de um amigo meu.
Havia uma fina camada de poeira em alguns campos, sinal de que pelo menos de uma forma despretensiosa alguém limpava a sala, mesmo que com pressa. Na sala a mesa do canto tinha uma planta, uma carteira de cigarros e um cinzeiro com algumas bitucas. Sinal de que Greg fuma? Mas a carteira de cigarros estava com a aparência de não ser tocada por um longo tempo e as cinzas e bitucas eram velhas. Ele não fuma mais?
Um videogame velho do lado da TV, um sofá de dois lugares. A decoração lembrava uma casa de família, mas curiosamente, sem fotos de família. Havia uma almofada no chão, com um daqueles postes onde os gatos afiam as unhas. Greg tinha um gato! Mas a casa não cheirava a gatos. A cozinha era estranhamente bem equipada para um homem solteiro de vinte e poucos anos que mora sozinho. Tinha até mesmo uma fritadeira. A geladeira era bem grande e os armários bem equipados com todo o tipo de panelas. Ok, isso não é uma casa de solteiro comum.
Ele me apresentou todos os espaços da casa apenas apontando na sua direção e dando instruções rápidas de coisas que ele julgava essenciais:
― Pratos na porta de cima, do lado da geladeira, copos na porta do lado, panelas nas portas de baixo. Talheres na gaveta do lado da pia, utensílios na gaveta do lado das dos talheres, pia é no sistema "Quem suja limpa", o mesmo vale para a louça.Okey ― Concordava com tudo sorrindo sem jeito.
― Na geladeira você como o que quiser, menos o meu iogurte. Primeira prateleira é comum, pode pegar o que tiver lá. A segunda é sua, prometo tentar não mexer em nada de lá, a terceira é minha, mas eu não guardo nada que realmente não quero que você mexa. Exceto meu iogurte, eu já disse isso não é?
― Sim...
Ele falava com um sorriso de moleque travesso que me cativava tanto, no primeiro momento que disse que ia não iria mexer nas minhas coisas eu sabia. Ele vai comer tudo que eu colocar naquela prateleira. Fiz uma nota mental de comprar um frigobar assim que meus direitos sobre o Violeta do próximo mês fossem depositados.
Subimos as escadas para o segundo piso onde um corredor estreito dividia o andar ladeado com várias portas, ele apontava para as portas e falava rapidamente do que se tratava o cômodo:
― Aqui é o escritório. Só tem livros e o meu PC antigo, não roda nada, nem photoshop. Aqui é o banheiro do segundo piso. Tem um lá embaixo também. Eu vou deixar esse aqui só pra você usar enquanto eu tomo banho no lá de baixo, já é costume meu, é bem espaçoso, tem até banheira! Só te recomendo não usar junto comigo...  Quer dizer... Eu nesse banheiro e você no outro... ― Ele deu uma engasgada, como quando alguém percebe que falou algo que pode ser interpretado de uma maneira maliciosa. De fato, eu nem havia pensado nisso. Eu tinha entendido perfeitamente o que ele tinha dito, Embora confesso que no fundo eu até tinha gostado da ideia de nós dois na "mesma" banheira.― Eu entendi o que você quis dizer. Pelos canos a água é aquecida à gás e se duas banheiras forem enchidas ao mesmo tempo o aquecedor não da conta e a água quente acaba ― emendei esse raciocínio rápido antes que  ele ficasse mais sem jeito ainda.
Gregório me lembrava vagamente meu primeiro namorado na faculdade. Mas não era na aparência tão pouco na maneira de agir. Gregório me provocava a mesma sensação que ele criava em mim quanto estávamos juntos. Para explicar isso eu preciso voltar no tempo até meu primeiro ano na faculdade.