sábado, 6 de outubro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" 1ª Parte

Gregório destrancou a porta da frente da casa, que na verdade mais parecia um sobradinho desses de filme, com a porta dando direto para a rua. Haviam algumas plantas na frente da casa, com alguns anões de jardim  e uma dessas luminárias de quintal, entre outras decorações. Reparei que as plantas eram do tipo que exigem pouco ou nenhum cuidado e além disso, a grama estava bem alta.
Greg me chamou quando a porta finalmente destrancou, passei por um pequeno hall com a mesinha de telefone, pude vislumbrar uma sala de jantar ao olhar para direita, quadros de bom gosto na parede, uma orquídea na mesa. A casa em si era relativamente organizada. Eu uso o relativamente porque em meus tempos de universitário eu já havia visto lugares que fariam um chiqueiro parecer uma sala de espera de dentista. Certa vez, tive uma crise de limpeza e tirei pelo menos cinco sacos de lixo da sala da república de um amigo meu.
Havia uma fina camada de poeira em alguns campos, sinal de que pelo menos de uma forma despretensiosa alguém limpava a sala, mesmo que com pressa. Na sala a mesa do canto tinha uma planta, uma carteira de cigarros e um cinzeiro com algumas bitucas. Sinal de que Greg fuma? Mas a carteira de cigarros estava com a aparência de não ser tocada por um longo tempo e as cinzas e bitucas eram velhas. Ele não fuma mais?
Um videogame velho do lado da TV, um sofá de dois lugares. A decoração lembrava uma casa de família, mas curiosamente, sem fotos de família. Havia uma almofada no chão, com um daqueles postes onde os gatos afiam as unhas. Greg tinha um gato! Mas a casa não cheirava a gatos. A cozinha era estranhamente bem equipada para um homem solteiro de vinte e poucos anos que mora sozinho. Tinha até mesmo uma fritadeira. A geladeira era bem grande e os armários bem equipados com todo o tipo de panelas. Ok, isso não é uma casa de solteiro comum.
Ele me apresentou todos os espaços da casa apenas apontando na sua direção e dando instruções rápidas de coisas que ele julgava essenciais:
― Pratos na porta de cima, do lado da geladeira, copos na porta do lado, panelas nas portas de baixo. Talheres na gaveta do lado da pia, utensílios na gaveta do lado das dos talheres, pia é no sistema "Quem suja limpa", o mesmo vale para a louça.Okey ― Concordava com tudo sorrindo sem jeito.
― Na geladeira você como o que quiser, menos o meu iogurte. Primeira prateleira é comum, pode pegar o que tiver lá. A segunda é sua, prometo tentar não mexer em nada de lá, a terceira é minha, mas eu não guardo nada que realmente não quero que você mexa. Exceto meu iogurte, eu já disse isso não é?
― Sim...
Ele falava com um sorriso de moleque travesso que me cativava tanto, no primeiro momento que disse que ia não iria mexer nas minhas coisas eu sabia. Ele vai comer tudo que eu colocar naquela prateleira. Fiz uma nota mental de comprar um frigobar assim que meus direitos sobre o Violeta do próximo mês fossem depositados.
Subimos as escadas para o segundo piso onde um corredor estreito dividia o andar ladeado com várias portas, ele apontava para as portas e falava rapidamente do que se tratava o cômodo:
― Aqui é o escritório. Só tem livros e o meu PC antigo, não roda nada, nem photoshop. Aqui é o banheiro do segundo piso. Tem um lá embaixo também. Eu vou deixar esse aqui só pra você usar enquanto eu tomo banho no lá de baixo, já é costume meu, é bem espaçoso, tem até banheira! Só te recomendo não usar junto comigo...  Quer dizer... Eu nesse banheiro e você no outro... ― Ele deu uma engasgada, como quando alguém percebe que falou algo que pode ser interpretado de uma maneira maliciosa. De fato, eu nem havia pensado nisso. Eu tinha entendido perfeitamente o que ele tinha dito, Embora confesso que no fundo eu até tinha gostado da ideia de nós dois na "mesma" banheira.― Eu entendi o que você quis dizer. Pelos canos a água é aquecida à gás e se duas banheiras forem enchidas ao mesmo tempo o aquecedor não da conta e a água quente acaba ― emendei esse raciocínio rápido antes que  ele ficasse mais sem jeito ainda.
Gregório me lembrava vagamente meu primeiro namorado na faculdade. Mas não era na aparência tão pouco na maneira de agir. Gregório me provocava a mesma sensação que ele criava em mim quanto estávamos juntos. Para explicar isso eu preciso voltar no tempo até meu primeiro ano na faculdade.

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