segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Capítulo 4 "Romance" Parte 1

Procurei o restinho de coragem que havia me sobrado, desci novamente na cozinha. Bebi a 3ª cerveja da preparação (9 beers no muro e eu ficando muito louco). Sentei no sofá da sala e tentei raciocinar (ok, só sentei no sofá porque raciocinar naquele estado era quase impossível). Peggy disse que eu estava apaixonado. Apaixonado? Eu? Véi na boua. Não! Eu não sou do tipo que se apaixona. Talvez só pelo Gio, mas isso tem quase 5 ou 6 anos e... MEU eu tenho mais o que fazer do que me apaixonar. Afinal o Gregório é só um moleque bobo que tem uma risada deliciosa que...

―  MERDA! Ou eu to bêbado ou a vadia da Peggy tá certa! ―  Virei a cerveja como se fosse água e dei adeus a sobriedade, Status alcoólico: Feliz, capaz de levar a amiga bêbada pra casa, mas incapacitado de tomar qualquer decisão. ―  Nesse caso as duas coisas.


Enfezado, decidi que era agora ou nunca (a cerveja decidiu pra mim, mas tanto faz). Peguei mais duas cervejas na geladeira e subi em direção aos quartos, descalço, sem fazer barulho, como um fantasma, Coloquei meu ouvido na porta e a música ainda ecoava suavemente, apurando mais meus ouvidos escutei que Greg cantava baixinho junto com a música. Nossa, odeio quando as pessoas fazem isso.

Bati na porta, Só tive tempo de escutar alguém se mexendo na cama, como se colocasse alguma roupa as pressas (Ele tava pelaaaaaaado) e escutei um "pode entrar" bem claro. Coloquei só o rosto dentro do quarto a tempo de ver os pelos castanhos de sua barriguinha de pele clarinha sendo cobertos por uma camiseta. O próprio Greg me despertou com um pedido de desculpas:

―  Desculpa, eu estava aqui escutando música e estava meio indecente, A musica não está muito alta, está?
―  Não, quase não dá pra escutar do corredor, eu vim aqui na verdade ―  "porque quero seu corpo nú" pensei ―  porque queria uma companhia para beber. ―  Estiquei-lhe uma das garrafas.
―  Ainda bem que eu não trabalho amanhã ―  Disse abrindo uma das garrafas enquanto me chamava para dentro do quarto.

O quarto do Greg se assemelhava muito a um quarto de casal, afinal era o antigo quarto dos pais dele. Mas havia sim um toque pessoal, principalmente na parte da bagunça, com facilidade encontrei todas as alterações que foram feitas no quarto nos últimos anos.

―  O que você está Escutando? ―  Puxei assunto.
―  Janis ―  Disse erguendo um pouco o volume ―  Amo essa música.

"The Rose" da Janis Joplin. Uma música linda que fala sobre amor de uma maneira sublime mesmo que a primeira vista a letra pareça piegas e brega. Eu conhecia essa música bem porque ela fazia parte da trilha sonora de um filme que assisti com o Gio no primeiro ano da faculdade e... O Greg começou a cantar a música baixinho com um Inglês sofrível. Próximo assunto por favor!

―  Os bons sempre morrem aos 27 no final das contas. ―  NERD!
―  Como assim? ―  Greg não captou.
―  Janis, Kurt Cobain, Hendrix, Amy Winehouse, todos eles morreram aos 27 anos.
―  Sério? Não sabia. Você é muito inteligente mesmo hein ―  "não é ser inteligente, é ter cultura" seria minha resposta padrão, mas de alguma forma ele me deixava mais tolerante e barrava meu lado violento, com aquela gargalhada levada dele ―  Melhor eu me apressar em fazer tudo que eu quero, ano que vem eu faço 27. Mas me diga, o que você veio fazer em Santa Clara? Veio passar uma temporada no litoral? A cidade não tem nenhuma praia boa. Quem gosta de praia geralmente vai pra Vila Regina ou Novo Horizonte.
―  Não eu não gosto de praia, e Santa Clara está bem desse jeito na minha opinião ―  Consegui arrancar um sorriso de simpatia do Greg.
―  Achei que você tivesse vindo pra cá buscando um emprego no Laboratório ou no Estúdio. 
―  Estúdio?
―  É, Aqui em Santa Clara fica a sede da TV regional, eles também gravam alguns comerciais por aqui.
―  E porque você achou isso?
―  Porque... Bem... ―  Ele fica lindo quando fica sem jeito, deu um sorriso de como quem não consegue achar as palavras corretas para se expressar ―  Você é muito bem apanhado.
―  Nossa! Obrigado, minha avó costuma dizer o mesmo ―  Arranquei mais uma risada dele.

Ele me chamou de "Bem apanhado". Claro que considerei um elogio, ele me achava bonito afinal, talvez uma declaração velada de que me acha atraente... THEODORO NÃO VIAJA!
Demos mais uma risada juntos, decidi contar o motivo pelo qual fugi para Santa Clara.

―  Eu precisava fugir por um tempo indeterminado de algumas pessoas que estavam me pressionando, nada a ver com crime ou justiça...
―  Ufa! ―  Ironizou
―  É... Eu sou um escritor...
―  Escritor? Nossa que bacana! Já publicou algum livro?
―  Só um.
―  Qualquer dia vou ler! ―  Quase apontei para a estante de livros ao lado do guarda-roupa e disse "Pode ler, é esse aqui". Por sorte eu estou irreconhecível na minha foto de biografia na orelha do livro.

Greg me contou sobre os livros que gostava de ler, muita coisa que eu já tinha lido, outras que eu leria, mas nada que o definisse como minha alma gêmea literária. Pelo menos acho que ele não desgostaria de ler o "Violeta"...
Greg me contou sobre os livros que o pai dele lia, contou que ganhou um Manual do Jovem escoteiro quando fez sete anos, me mostrou o distintivo com uma flor de Lis preso no casaco de inverno no cabideiro,  e isso serviu de ponte para ele me contar da tragédia que havia ocorrido com a família, da sua relação fraternal com Peggy, que via ela como uma irmã mais velha, que o protegia, contou sobre o Pub, que ele a convenceu a manter e que por causa disso sabia preparar quase todos os drinks do menu. Mas ao mesmo tempo contou que se sentia triste e sozinho a maior parte do tempo preferia ficar isolado, trabalhava quatorze horas por dia e geralmente não gastava dinheiro com supérfluo.

―  Você não se relacionou com ninguém depois da morte dos seus pais? ―  Soltei como uma observação inocente.
―  Sabe, é que eu não quero criar laços. Pelo menos eu acho que não quero. Pode parecer estranho mas eu sinto como se uma vida cheia de amigos, romances, longas histórias de amor e etc. Não fosse algo compatível com minha realidade.

Reconheci em Greg um igual, ele definitivamente não era um coitado, ele só estava cronicamente acostumado a ficar sozinho, acostumado a tal ponto que passou a preferir essa condição.

―  Sabe Greg, o que me faz realmente falta. ―  Falei num tom nostálgico.
―  O que? ―  Disse Greg colocando a ultima garrafa de Stella junto com suas 9 irmãs no canto da cama. Ele se arrumou e encostou as costas na cabeceira da cama onde estávamos.
―  Eu sinto falta de ser acolhido sabe, não que eu queira um relacionamento longo ou coisa do tipo, eu sinto falta de uma coisa simples como o abraço de alguém.
―  O meu serve?

Essa pergunta foi como um tiro a queima roupa. Completamente inesperada. Greg queria me confortar? Ele só poderia estar brincando, não pode ser sério! O que eu faço? Entro na brincadeira? Fujo? Me escondo embaixo da cama? Eu não sei! Meu instinto congelou, meu coração começou a pular rápido. Greg abriu os braços e deu um tapinha no peito me convidando para ser acolhido.

Me deitei de constar em seu peito e coloquei minha cabeça em seu ombro. Ele era quente e aconchegante. Sua barba fazia cócegas no meu pescoço. Nossa como ele era acolhedor, senti que poderia ficar em seus braços por toda a eternidade e nada nem ninguém poderia me ferir. Eu sentia sua respiração, o calor de seu corpo. Nossos corpos estavam juntos e se encaixavam como duas peças de Lego. Eu fiquei entorpecido. Quase inconsciente, levantei meu rosto encostei meus lábios nos dele e o beijei.



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