sábado, 29 de dezembro de 2012

Capítulo 4 "Romance" Parte 2 Final.

Meu beijo com Gregório durou pouco tempo, mas para mim, foi como se séculos tivessem se passado. Tudo estava muito perfeito. Eu, ele de pijama, nós dois quase bêbados de cerveja, sentados na cama dele. Tudo caminhava para uma noite maravilhosa, mas foi quando eu senti os músculos do rosto dele ficarem tensos. De uma maneira delicada e educada ele me afastou e se levantou. Saiu da cama pelo lado oposto de onde eu estava dando a entender que estava cansado ou indisposto ou até mesmo desconfortável com a situação. No fundo eu acho que ele estava os três...

Sem reação eu caminhei para a porta do quarto e sem saber o que fazer apenas disse:

— Desculpa... Eu... Vou deixar você dormir...

Saí rápido e a passos largos sem olhar para trás, entrei no meu quarto, num misto de vergonha e arrependimento, pulei na cama e lá fiquei revirando até conseguir pegar no sono, o que demorou pois a ultima vez que olhei no relógio, já eram mais de 5 horas. 

No dia seguinte, acordei com o sol nos meus olhos, morto e com uma ressaca moral terrível, o relógio acusava quase meio dia. Desci as escadas de cueca, sem sequer pensar na possibilidade do Greg estar lá embaixo. Eu precisava com urgência de um cigarro. 


Roubei um do Gregório que estava na mesinha da sala mesmo e fui para o quintal fumar. Não era da marca que eu costumo fumar, mas serviu ao propósito de me acalmar:

 Ô lá em casa! 
Essa cantada me fez voltar a realidade. Sua autora, Peônia Cindernell estava recolhendo as garrafas deixadas no pátio dos fundos do Peggy's que por acaso fazia divisa com os fundos da casa do Greg. Só então a ficha de que eu estava de cueca caiu, eu torci para que a mureta que separava ambos os quintais tivesse me ocultado da cintura para baixo:
 Almoça comigo?  Gritou Peggy.
 Só nós dois?
 Pode ser.
 Vou colocar uma roupa e vou até aí. 



O Peggy's ainda estava fechado, mas uma das mesas estava posta com uma toalha, pratos e uma apetitosa travessa de escondidinho carne moída com batata e outra com uma salada verde:
 Eu curto cozinhar, mas detesto comer sozinha. O Greg vai trabalhar o dia todo hoje.
Respirei fundo:
 Peggy, sobre ontem a noite...
 Uuuuuuuuuiii! Conta, conta, conta!
— Eu acho que fiz merda.
— Discorra.

Contei a noite anterior com riqueza de detalhes. Dos planos, medos, intenções e do desfecho frustrante:
—  Sa-fa-di-nho.
— Meu sério, foi muito estranho e agora ele vai querer colocar uma cerca elétrica ao redor dele. Achei um milagre minhas coisas não estarem amontoadas na porta hoje cedo. Eu com certeza ultrapassei os limites.
— Não, não ultrapassou não. Eu conheço o Gregório, Se ele fez isso provavelmente é porque ele também está tão confuso quanto você.
— Por acaso eu sou o primeiro homem dele?
Peggy riu como se eu tivesse dito a coisa mais idiota do mundo:
— O que foi?
— Lembra quanto eu te apresentei o Gregório?
— Se lembro? Eu queria me esconder debaixo do banco com aquela encarada que ele me deu.
— Aquilo se chama "Quem come".
— Oi?
— "Quem come". Funciona assim, nós dois encaramos uma pessoa, e aquele que receber mais atenção é sinal de que a pessoa prefere morenos ou ruivas. 
— Brincadeira idiota.
— Nós brincávamos disso quando tínhamos sei lá... Quinze anos. O que eu quero que você entenda é que não é fácil ser uma criança da Cidade Velha. 
— Agora discorre você rapariga.
— Bom. Vila Regina e Novo Horizonte têm várias praias. Mas só isso. Santa Clara tem as melhores escolas, hospital, fábricas, centro comercial desenvolvido e uma rede hoteleira descente. A cidade é dividida entre a Cidade Nova, onde tem tudo isso, e a Cidade Velha, que é esse charme que você vê. Cheia de passeios praças, parques Algumas cantinas e o Peggy's. Mas na maioria quem mora aqui na cidade velha são casais de Idosos ou aposentados. Quando você cresce na cidade velha, você acaba tendo pouco contato com diferentes, mesmo morando numa cidade turística. Os turistas frequentam mesmo é a Cidade Nova, onde ficam as baladas, o Gran Hotel e os terminais rodoviários para fora da cidade. 
"Mas isso não quer dizer que as crianças da cidade velha não amadurecem ou são caipiras. Nós crescemos diferente. Eu e Greg tinhamos um pequeno grupo de pessoas escolhidas a dedo, todos moravam nas proximidades da cidade velha. Cada passeio, cada parque, cada praça, até mesmo os morros e a zona rural eram nossos quintais. E como tínhamos o melhor espaço, aprendemos a ser seletivos. Gostávamos da melhor música, das melhores comidas, das melhores bebidas e até mesmo as melhores pessoas na hora de nos apaixonarmos." 
"De fato, as coisas poderiam ser rápidas ou devagar, mas eram feitas com as pessoas certas, eram preciosas, aconteciam no seu tempo. Eu nunca precisei ir numa festa e beijar 20 garotos pra impressionar alguma idiota na escola. A cidade velha era nosso paraíso. Criamos um santuário onde aqueles que queriam se sentir aceitos e aceitavam bem os outros conseguiam viver em paz. No meio disso tudo, Greg era o garoto mais quieto e na dele. Todos achavam que ele era pelo menos cinco anos mais velho do que ele realmente era, afinal não é fácil ser o mais alto e ter barba desde os quatorze anos. Ele era bem quieto e calado. Mas era parceiro. O problema do Gregório é que ele se envolve com as pessoas muito facilmente e de uma maneira muito profunda e muito rápida. De fato pra você transar com ele basta apenas algumas horas de conversa e se mostrar interessado nisso. Eu vi ele ir pra cama a primeira vez com quinze anos numa festinha com uma garota que só queria se divertir. Mas depois ele ficou magoado quando ela desapareceu. No final das contas, ele disse que só queria 'passar o tempo'. No ano seguinte ele foi pra cama com um turista de dezenove anos porque queria 'curtir a experiência' mas eu sei que ele ficou muito chateado quando o menino foi embora."
— Então ele é do tipo que se apega fácil as pessoas?
— Exato.
Um sentimento de culpa surgiu em mim. Eu iria embora de Santa Clara assim que algum lampejo de criatividade surgisse em mim, assim que eu tivesse algo para mostrar pro meu editor e finalmente pudesse respirar. Eu nunca tinha parado pra pensar o que faria com Greg ou Peggy depois disso. Provavelmente visitá-los nas férias ou coisa do tipo. 
— E porque você acha que dessa vez ele não quis se envolver comigo?
— Bom, desde que os pais dele morreram, ele mudou um pouco o jeito dele de ser. Não raramente eu encontro vestígios de outras pessoas visitando o quarto dele, mas, quando eu pergunto, ele nega ou desconversa. Ele afasta pessoas estranhas e pra ser sincera eu não creio que ele saiba o nome de um terço das pessoas com quem ele vai pra cama.
— Então ele não fica com ninguém por receio das pessoas se afastarem?
— Não sei se é receio, medo das pessoas irem embora, só sei que não pode ser culpa sua.
— O Fato Peggy, é que eu beijei ele e ele se afastou. Ele não deve ter gostado ou deve estar com raiva.
— Ele só deve estar pensando.
— Em quê?
— Téo, Greg é uma pessoa ótima, mas é muito solitário. Ele vive sozinho a muito tempo e dificilmente confia em alguém. Mas é só conversar com ele que você nota que no fundo Greg é só uma pessoa extremamente carente de afeto.

Carente de afeto. Mais uma vez, Peggy colocou Greg como meu igual. Nós dois, carentes, solitários, cada um a sua maneira, desejando apenas estar com alguém que nos acolha. O eterno problema das pessoas carentes é achar que qualquer rejeição é sua culpa. Esquecer que existem duas pessoas em uma relação, cada uma com suas dinâmicas diferentes, problemas diferentes. Eu queria entender o problema do Greg, eu queria ajuda-lo a resolver esse problema, eu queria estar com ele.
— Onde ele estaria pensando Peggy?
— Quando alguma coisa aflige muito o Greg, ele vai até o velho mirante abandonado no morro de Santa Clara. Ele senta no mirante e fica olhando a cidade por horas. Provavelmente ele vai pra lá depois do trabalho. 
— Onde é isso?
—  Segue a avenida da cidade velha até a estrada que leva pra zona rural, você vai encontrar uma trilha ao lado direito da estrada que sobe o morro. É só seguir.
— Vou resolver isso agora.

Peguei minha vespa e segui o caminho indicado. Nunca havia me passado pela cabeça que Greg fosse bissexual, mas isso fazia bastante sentido pra mim. A maneira como ele me encarou, como ele me aceitou nos seus braços, como ele se abriu fácil comigo, como ele conversava animado comigo, como ele era quente e aconchegante. De fato. Ele era uma pessoa carente demais de afeto. Precisava daquele abraço e no que depender de mim, eu poderia fornecer bem mais do que um abraço. Eu jurei para mim mesmo que nunca magoaria o Greg, independente do que acontecesse de agora em diante. Afinal, eu estava realmente gostando dele.
Subi a trilha com o coração na boca. Ao mesmo tempo que uma chuva começava a cair. Por sorte eu tinha um guarda-chuva embaixo do banco da vespa. Eu não sabia da reação do dele. Ele podia ficar com raiva, me expulsar, pedir espaço, me achar grudento. Minha cabeça ordenava que eu recuasse, meu corpo só me impulsionavam para frente.
Cheguei no mirante e encontrei Greg sozinho lá olhando para o horizonte pensativo. Ele não me viu, subi até a plataforma de observação com calma, não queria assustá-lo. Só queria conversar:



— Gregório? — Chamei com a voz bem clara.
— Como você me achou aqui? Não, eu sei. Peggy te disse não é?
— Foi. Eu queria conversar com você sobre ontem a noite. Te pedir desculpas...
— Desculpas?
— Eu devo ter me excedido, eu só queria dizer que sinto muito.
— Não, você não tem do que se desculpar, eu... Eu que tinha que te pedir desculpas, fui um grosso, deveria ter conversado com você na hora pra evitar essa situação, mas na verdade eu sou um medroso.
— Não tenha medo, pode falar o que você está sentindo, eu vou entender.
— Eu gostei.
— Gostou?
— Eu gostei do seu beijo. Foi sincero, foi natural, gostei do seu corpo aconchegado no meu, gostei de você comigo naquela hora.
— Então Porque?
— Eu tenho medo. Eu não sei se quero estar próximo a alguém assim. Eu tenho medo de usar ou ser usado, tenho medo de tudo isso acabar.
— Greg, eu também gostei. —  Disse me aproximando — Você não precisa ter medo de me usar, pois eu quero isso, eu nunca me senti tão bem. Eu quero isso.
Coloquei minha mão em seu ombro e o apertei gentilmente, puxei ele para cima de mim e nos beijamos. A vista da cidade de Santa Clara era linda. Quando o mundo pode ver nossos lábios se tocando. A Barba do Greg fazia cócegas e me acariciava, me fazia sentir um calor no peito e a desejá-lo cada vez mais e mais. Nos beijamos por mais de meia hora. Sem ninguém para nos incomodar. Era como se eu estivesse com sede a muito tempo, e finalmente tomasse uma garrafa de água gelada.
O tempo seguia devagar, eu sentia o vento, a chuva, o cheiro da grama molhada, uma vertigem gostosa tomou conta do meu corpo. 
Quando nossos lábios se separaram, nos abraçamos e em silêncio, observamos as nuvens darem lugar a um sol poente lindo no horizonte.


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Galeres, esse capítulo foi praticamente reescrito por inteiro, por isso eu dei sangue e suor pra fazer, numa tacada, eu duas partes, Texto e fotos.
Se gostou, comentáriozinho por favor, Um Curti no Face já ajuda. 
Se achou algum errinho Desculpa aí, herrar é umano. 
Grande abraço pra todos vocês
Um Feliz Ano Novo 
e Capitulo 5 agora só em 2013.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

20 coisas sobre Peggy Cindernell

1. O nome completo dela é Peônia Regina Cindernell. Peônia era a flor favorita da mãe dela.

2. Ela tem 27 anos. Faz aniversário em 21 de Setembro, no dia da Árvore.

3. Bebe pelo menos 3 doses de tequila por dia.

4. Quando tinha 12 anos era a menina com maior seios da sua sala. Isso era motivo de chacota, por isso independente do clima, ela sempre usa um casaco ou uma jaqueta.

5. Ela mede 1,65 m. Mas anda sempre de salto, dessa forma ninguém tem noção exata da sua altura.

6. Nunca fez dieta na vida. Mas se ninguém avisa para ela que é hora do almoço, ela passa o dia inteiro sem comer.

7. Ela ama roupas com caveirinhas. Uma vez ela comprou um vestido dois números menores que ela só por que tinha estampa de caveira mexicana.

8. Além de caveiras, ela ama motocicletas. Seu sonho é comprar uma Virago em bom estado. Ela tem o dinheiro para isso, só que como uma moto não ajudaria em nada no bar, prefere investir em coisas mais úteis.

9. Ela tem um "namoro aberto" com um cara que vive na Argentina que aparece uma vez a cada 2 ou 3 anos em Santa Clara. Apesar de não admitir, é por isso que não namora ninguém. O que ela não sabe é que Ele também não fica com ninguém lá.

10. Por causa desse cara ela está a 2 anos sem sexo. O que ela não sabe é que ele também está.

11. Em uma festa Peggy bebeu 2 litros de Rum. Ela acordou com outros 3 casais na mesma cama. Ela tem quase certeza que transou com todos. Mas como ela estava bêbada não gosta de confirmar.

12. Uma vez aos 15 anos, rolou algo semelhante com um grupo de 5 turistas, mas sem rum.

13. Antes da morte do pai ela queria ser uma Música. Ela sabe tocar baixo e guitarra.

14. Ela é formada em direito, mas não fez a prova da OAB porque o bar toma maior parte do seu tempo.

15. Tem parentes em Novo Horizonte e Vila Regina, mas sua mãe na verdade era uma turista americana, de Bridgeport.

16. Na primeira vez que viu Téo, achou ele muito gato e ficou desapontada quando reparou nele secando Greg.

17. Acha que Téo é muito lerdo, ficou espantada quando soube que eles não transaram na primeira semana.

18. Ela acha o Greg bonito, mas quando falam dela com o Greg, ela da risada como se fosse a coisa mais estranha do mundo (Na verdade, seria a coisa mais bizarra do mundo).

19. Modelou por 3 dias. Mas quando um produtor pediu para ela fazer fotos de roupas intima, ela deu o fora e nunca mais pensou em tirar fotos.

20. O Livro favorito dela é "As Vantagens de Ser invisível". O segundo livro favorito dela é "Violeta".

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Capítulo 4 "Romance" Parte 1

Procurei o restinho de coragem que havia me sobrado, desci novamente na cozinha. Bebi a 3ª cerveja da preparação (9 beers no muro e eu ficando muito louco). Sentei no sofá da sala e tentei raciocinar (ok, só sentei no sofá porque raciocinar naquele estado era quase impossível). Peggy disse que eu estava apaixonado. Apaixonado? Eu? Véi na boua. Não! Eu não sou do tipo que se apaixona. Talvez só pelo Gio, mas isso tem quase 5 ou 6 anos e... MEU eu tenho mais o que fazer do que me apaixonar. Afinal o Gregório é só um moleque bobo que tem uma risada deliciosa que...

―  MERDA! Ou eu to bêbado ou a vadia da Peggy tá certa! ―  Virei a cerveja como se fosse água e dei adeus a sobriedade, Status alcoólico: Feliz, capaz de levar a amiga bêbada pra casa, mas incapacitado de tomar qualquer decisão. ―  Nesse caso as duas coisas.


Enfezado, decidi que era agora ou nunca (a cerveja decidiu pra mim, mas tanto faz). Peguei mais duas cervejas na geladeira e subi em direção aos quartos, descalço, sem fazer barulho, como um fantasma, Coloquei meu ouvido na porta e a música ainda ecoava suavemente, apurando mais meus ouvidos escutei que Greg cantava baixinho junto com a música. Nossa, odeio quando as pessoas fazem isso.

Bati na porta, Só tive tempo de escutar alguém se mexendo na cama, como se colocasse alguma roupa as pressas (Ele tava pelaaaaaaado) e escutei um "pode entrar" bem claro. Coloquei só o rosto dentro do quarto a tempo de ver os pelos castanhos de sua barriguinha de pele clarinha sendo cobertos por uma camiseta. O próprio Greg me despertou com um pedido de desculpas:

―  Desculpa, eu estava aqui escutando música e estava meio indecente, A musica não está muito alta, está?
―  Não, quase não dá pra escutar do corredor, eu vim aqui na verdade ―  "porque quero seu corpo nú" pensei ―  porque queria uma companhia para beber. ―  Estiquei-lhe uma das garrafas.
―  Ainda bem que eu não trabalho amanhã ―  Disse abrindo uma das garrafas enquanto me chamava para dentro do quarto.

O quarto do Greg se assemelhava muito a um quarto de casal, afinal era o antigo quarto dos pais dele. Mas havia sim um toque pessoal, principalmente na parte da bagunça, com facilidade encontrei todas as alterações que foram feitas no quarto nos últimos anos.

―  O que você está Escutando? ―  Puxei assunto.
―  Janis ―  Disse erguendo um pouco o volume ―  Amo essa música.

"The Rose" da Janis Joplin. Uma música linda que fala sobre amor de uma maneira sublime mesmo que a primeira vista a letra pareça piegas e brega. Eu conhecia essa música bem porque ela fazia parte da trilha sonora de um filme que assisti com o Gio no primeiro ano da faculdade e... O Greg começou a cantar a música baixinho com um Inglês sofrível. Próximo assunto por favor!

―  Os bons sempre morrem aos 27 no final das contas. ―  NERD!
―  Como assim? ―  Greg não captou.
―  Janis, Kurt Cobain, Hendrix, Amy Winehouse, todos eles morreram aos 27 anos.
―  Sério? Não sabia. Você é muito inteligente mesmo hein ―  "não é ser inteligente, é ter cultura" seria minha resposta padrão, mas de alguma forma ele me deixava mais tolerante e barrava meu lado violento, com aquela gargalhada levada dele ―  Melhor eu me apressar em fazer tudo que eu quero, ano que vem eu faço 27. Mas me diga, o que você veio fazer em Santa Clara? Veio passar uma temporada no litoral? A cidade não tem nenhuma praia boa. Quem gosta de praia geralmente vai pra Vila Regina ou Novo Horizonte.
―  Não eu não gosto de praia, e Santa Clara está bem desse jeito na minha opinião ―  Consegui arrancar um sorriso de simpatia do Greg.
―  Achei que você tivesse vindo pra cá buscando um emprego no Laboratório ou no Estúdio. 
―  Estúdio?
―  É, Aqui em Santa Clara fica a sede da TV regional, eles também gravam alguns comerciais por aqui.
―  E porque você achou isso?
―  Porque... Bem... ―  Ele fica lindo quando fica sem jeito, deu um sorriso de como quem não consegue achar as palavras corretas para se expressar ―  Você é muito bem apanhado.
―  Nossa! Obrigado, minha avó costuma dizer o mesmo ―  Arranquei mais uma risada dele.

Ele me chamou de "Bem apanhado". Claro que considerei um elogio, ele me achava bonito afinal, talvez uma declaração velada de que me acha atraente... THEODORO NÃO VIAJA!
Demos mais uma risada juntos, decidi contar o motivo pelo qual fugi para Santa Clara.

―  Eu precisava fugir por um tempo indeterminado de algumas pessoas que estavam me pressionando, nada a ver com crime ou justiça...
―  Ufa! ―  Ironizou
―  É... Eu sou um escritor...
―  Escritor? Nossa que bacana! Já publicou algum livro?
―  Só um.
―  Qualquer dia vou ler! ―  Quase apontei para a estante de livros ao lado do guarda-roupa e disse "Pode ler, é esse aqui". Por sorte eu estou irreconhecível na minha foto de biografia na orelha do livro.

Greg me contou sobre os livros que gostava de ler, muita coisa que eu já tinha lido, outras que eu leria, mas nada que o definisse como minha alma gêmea literária. Pelo menos acho que ele não desgostaria de ler o "Violeta"...
Greg me contou sobre os livros que o pai dele lia, contou que ganhou um Manual do Jovem escoteiro quando fez sete anos, me mostrou o distintivo com uma flor de Lis preso no casaco de inverno no cabideiro,  e isso serviu de ponte para ele me contar da tragédia que havia ocorrido com a família, da sua relação fraternal com Peggy, que via ela como uma irmã mais velha, que o protegia, contou sobre o Pub, que ele a convenceu a manter e que por causa disso sabia preparar quase todos os drinks do menu. Mas ao mesmo tempo contou que se sentia triste e sozinho a maior parte do tempo preferia ficar isolado, trabalhava quatorze horas por dia e geralmente não gastava dinheiro com supérfluo.

―  Você não se relacionou com ninguém depois da morte dos seus pais? ―  Soltei como uma observação inocente.
―  Sabe, é que eu não quero criar laços. Pelo menos eu acho que não quero. Pode parecer estranho mas eu sinto como se uma vida cheia de amigos, romances, longas histórias de amor e etc. Não fosse algo compatível com minha realidade.

Reconheci em Greg um igual, ele definitivamente não era um coitado, ele só estava cronicamente acostumado a ficar sozinho, acostumado a tal ponto que passou a preferir essa condição.

―  Sabe Greg, o que me faz realmente falta. ―  Falei num tom nostálgico.
―  O que? ―  Disse Greg colocando a ultima garrafa de Stella junto com suas 9 irmãs no canto da cama. Ele se arrumou e encostou as costas na cabeceira da cama onde estávamos.
―  Eu sinto falta de ser acolhido sabe, não que eu queira um relacionamento longo ou coisa do tipo, eu sinto falta de uma coisa simples como o abraço de alguém.
―  O meu serve?

Essa pergunta foi como um tiro a queima roupa. Completamente inesperada. Greg queria me confortar? Ele só poderia estar brincando, não pode ser sério! O que eu faço? Entro na brincadeira? Fujo? Me escondo embaixo da cama? Eu não sei! Meu instinto congelou, meu coração começou a pular rápido. Greg abriu os braços e deu um tapinha no peito me convidando para ser acolhido.

Me deitei de constar em seu peito e coloquei minha cabeça em seu ombro. Ele era quente e aconchegante. Sua barba fazia cócegas no meu pescoço. Nossa como ele era acolhedor, senti que poderia ficar em seus braços por toda a eternidade e nada nem ninguém poderia me ferir. Eu sentia sua respiração, o calor de seu corpo. Nossos corpos estavam juntos e se encaixavam como duas peças de Lego. Eu fiquei entorpecido. Quase inconsciente, levantei meu rosto encostei meus lábios nos dele e o beijei.



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Capítulo 3 "Colegas de Apartamento" Final




I'm coming out of my cage
And I've been doing just fine
Gotta gotta be down
Because I want it all

Tocava Mr. Brightside no meu tocador de mp3 naquela semana. Eu sentia que algo podeira acontecer. Algo novo. Por algum motivo eu escutava essa musica repetidamente durante a semana que se seguiu em Santa Clara. A música fala sobre um sentimento de ciúmes do amor recém descoberto.  Estaria eu começando a olhar com outros olhos para o Gregório?

Peggy tem a mania incrível de tentar colocar a gente junto no mesmo cenário. Na segunda feira, um cano do Peggy's estourou. Eu e o Greg fomos obrigados a bancar os bombeiros hidráulicos. E foi essa a primeira vez que o vi sem camisa... Sou moço tímido e acredito no amor.  Tenho certeza que vou acabar sozinho. Ele digamos é bem... Legal... Alguém que trabalha na segurança e tudo mais...

Nos dias seguintes minha rotina em Santa Clara começou a se definir. De manhã exercícios (principalmente depois de ver o Greg sem camisa), depois almoço, Geralmente o lanche de microondas do Peggy's. Durante a tarde: Pesquisa. de duas a quatro horas sentado na biblioteca de Santa Clara, lendo de tudo. A princípio, jornais, uma tentativa desesperada de achar algum incidente trágico ou mistério não solucionado, escrever outro romance de mistério como o Violeta seria maravilhoso. Isso se eu tivesse alguma inspiração. Depois parti para romances históricos, jornais da época da fundação da cidade, mas nenhuma ideia me surgia. A cada novo nuance de uma nova narrativa, eu visualizava também uma crítica do tipo "inferior ao Violeta" ou "Tentativa frustrada de alcançar um novo sucesso". No Final do dia eu só pensava em voltar para casa e desfrutar a banheira. 

Greg sempre estava sozinho, trancado no seu quarto, ou ainda estava fora. Provavelmente vendo o jogo na TV do Peggy's. Curiosamente eu só conseguia dormir quando escutava a porta do quarto dele bater. Nós conversávamos pouco, de fato, Eram conversas do tipo: "Será que hoje chove?" ou "O leite está acabando, se importa de comprar mais uma caixa?". 

Mesmo nesses diálogos curtos e simples eu nunca senti nenhum tipo de indiferença da parte do Greg. Muito pelo contrário. Ele sempre sorria, ele sempre parecia querer puxar um assunto, mas o que lhe faltava para isso? Coragem? Tempo?

― Hoje eu vou fazer um turno a menos, vou ter tempo de lavar a louça. Me desculpa ter feito você lava-la durante quase uma semana. ― Ele disse afinal na primeira sexta feira em que moramos juntos. 
― Tudo bem, eu gosto de lavar louça, me acalma. ― Olhei para a louça que ele tinha acabado de lavar. Vou ter que lavar tudo de novo.
― Á partir de hoje não faço mais o turno da noite. Vou poder cuidar mais daqui.

Respondi com um sorriso. 

Ele saiu.

Hora de invadir. Fazia milênios, que eu não pesquisava a vida de uma pessoa. Olhei os CD's (nada que eu amasse de paixão, muita coisa que eu escutava, mas nenhuma das minhas bandas favoritas), Livros (Puta que pariu, ele tinha uma cópia do Violeta, por sorte reparei que o livro nunca tinha sido lido. No mais, só a boa e velha literatura fantástica e de ficção que eu me julgo burro demais para escrever).
― Stalker! ― tive uma pequena parada cardíaca.

Peggy estava na entrada da sala segurando uma vassoura numa mão e na outra um litro de vodka. 

― Na verdade eu só queria encontrar algum assunto pra falar com ele.
― Que tal fazer isso enquanto me ajuda com a faxina?

Cada um com um pano na mão, fomos tirando limpado a sala:
― Eu me sinto mau de não conhecer o Greg, odeio essa sensação de morar com uma pessoa estranha. Ainda mais depois de conhecer a história dele. ― Tirei todos os CD's do suporte. ― Peggy eu morei com estranhos minha vida toda. Até quando morava com meus pais.
― Conta essa história direito.
― Bom, como posso dizer isso: Meu irmão era uma criança mimada, cresceu e virou um babaca, meus pais se esforçam para ser legal, mas na cabeça deles eu sou a ovelha negra da família porque não sou engenheiro que nem o papai nem médico cardiologista como a mamãe. Eles pagaram minha faculdade de jornalismo esperando que eu me tornasse âncora de um telejornal ou repórter de tevê, mas eu odeio pensar em trabalhar em uma emissora, Então todas as vezes que eu converso com meus pais é a mesma coisa "já arrumou um emprego?", "Arruma essa cara senão nenhuma emissora vai te contratar!", "Seu pai conhece um cara que conhece um cara que pode te arrumar uma posição".
― Nepotismo, UHUL!
― Ai quando eu fiz 18 anos eu dei no pé de casa, meus pais pagavam minha faculdade, meu aluguel, minhas contas, mas minha bebida eu mesmo pagava fazendo trabalho dos outros. Desde então eu morei com até 8 estranhos numa república. Eu digo, eu quero morar com alguém que eu conheça.
―  Eu tenho a solução. Na verdade, Uma dúzia de soluções. Espera aqui.

Peggy saiu, demorou uns 15 minutos e voltou com duas caixinhas de Stella Artois, minha cerveja preferida, Provavelmente a do Greg também:
―  Coloca essa merda pra gelar, a hora que ele tiver trancado no quarto, bate na porta e oferece uma. Não conheço nenhuma história de amizade que começa com uma salada. E Menos ainda uma história de Amor.
― História de amor?
― Admita, você tá gamado nele.

Fiquei quieto, naquela manhã... Durante a tarde... até a noite chegar. Eu não estou gamado nele, eu só quero fazer amizade com ele, só quero conversar com ele. Lógico que ele é um rapaz bonito, mas eu quero entender a dinâmica dele e ter uma convivência sadia com ele. Só isso...

― Só isso...
Sentado na cadeira da escrivaninha do meu quarto, revirando umas anotações, soltei minhas primeiras palavras desde aquela manhã. Escutei a porta batendo, o chuveiro, depois os passos na escada e por ultimo a porta do quarto se fechando.

―  É a hora da verdade.
Desci na cozinha, bebi uma das cervejas (11 faltando), Revisei meus rascunhos, tudo lixo, joguei no lixo do banheiro mesmo, passei na frente do quarto do Greg, musica baixinha saindo da porta. Ergui a mão para bater na porta. Faltou coragem. Desci na cozinha e peguei outra cerveja (10 sobreviventes). Bebi como se fosse água no sofá da sala. Tentei entender o sentido do meu nervosismo e só encontrei uma resposta. Ou eu estava muito bêbado (2 cervejas, não né) ou Peggy tinha razão. Peguei uma terceira cerveja e bebi lentamente, fui até meu quarto. No relógio 22 horas, e ainda tinha música no quarto do Greg.


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Pessoal, muito obrigado por lerem essa historinha que eu to contando,
Quem tá caindo aqui de para-quedas por causa da novelinha Violetta deixa um comentário dizendo quem é melhor =P (Brinks, por favor não faça isso)
Quem tá vindo aqui do blog do Sick, meu eu e a Alice já estamos bolando um Crossover 
Desculpem pela demora em postar, trabalhar 3 turnos é F-O-D-A.
Desculpem pela falta de fotos. Vou ilustrar mais os capítulos futuros, prometo.
E Obrigado por quem realmente lê isso aqui.

See Yaa