sábado, 18 de agosto de 2012

Capítulo 1 "Eu só quero estar longe daqui."


Ai... Eu não faço a mínima ideia de como vou começar a falar sobre isso. Então vou começar com uma simples apresentação.


Meu nome é Theodoro Alvares. Tenho 27 anos, formado em jornalismo com ênfase em história do jornalismo. Não exerço a profissão, como muitos dos meus antigos colegas, entretanto, ao contrário deles, consegui fugir dos escritórios de comunicação e secretarias de imprensa. Tudo começou um ano após o termino dos meus estudos.
Na época eu tinha 22 anos, tinha acabado de me formar, e há um ano, sem sucesso, procurava emprego nas redações dos jornais da região. Entre um bico e outro eu comecei a dar forma ao meu ultimo grande feito. Mas vamos aprofundar mais. Desde pequeno eu sempre amei ler. É curioso, pois, maior parte das crianças que andavam comigo preferiam ver um desenho animado, mas eu sempre preferia um bom livro. Comecei lendo os livros de uma série chamada “Coleção Colibri”. Livros curtos, com menos de 110 páginas com, a cada 10 ou 15 páginas uma grande gravura ilustrava parte na narrativa, perfeitos para jovens leitores. Eu me lembro de ter lido a maior parte da coleção nos últimos anos do ensino fundamental, Dentre todos eles, o que eu mais amava era “A Borboleta do Inferno”. Um Romance policial com cerca de 200 páginas, era o livro mais grosso de toda a coleção, que contava ma história de uma série de assassinatos cometidos por um serial killer que assinava cada morte com uma borboleta morta presa por um alfinete. Me lembro deter lido aquele livro umas dez vezes seguidas. O Fato é que cada vez mais fiquei apaixonado pelo gênero de mistério, livros policiais, romances investigativos e afins.
Nesse ano entre uma entrevista de emprego e outra, comecei a rascunhar em um caderno velho da faculdade alguns rabiscos e notas sobre uma história de mistério, sobre um policial que perseguia um assassino. Comecei a me lembrar do velho sargento Antero, protagonista do “A Borboleta do Inferno”. Um homem cansado da sua vida, que usava o trabalho com fuga de uma vida matrimonial infeliz, atordoado em vícios e a todo o tempo deixava que pistas importantes fossem perdidas. Como por exemplo, o fato de que a espécie de borboleta usada para assinatura do crime ser originária de uma região específica do Serrado Brasileiro (a história se passava em uma cidade fictícia do Rio de Janeiro), e o único entomologista da cidade possuía uma estufa cheia dessas borboletas. Enfim, eu comecei a pensar como seria um detetive mais eficaz. Mas para um detetive mais eficaz, eu precisava de um vilão mais eficaz.
E assim, peça por peça, me dei conta que estava criando uma história bem interessante. Dessa forma nasceu meu primeiro livro “Violeta”. A princípio eu escrevia cada capítulo e postava-os em um blog, que depois eu mandava o link para alguns amigos que gostavam e divulgavam. Quando eu havia publicado cerca de um quinto do livro, um blog especializado em contos undergrouns da internet, “O Olhudo”, se ofereceu para publicar os capítulos em parceria. Com isso o número de leitores cresceu levemente. Não demorou surgiram os primeiros fãs, e em alguns meses eu finalizei a obra.

O Romance, tornou-se um arquivo .pdf” com cerca de 5 Megabites disponível para Download gratuito n’O Olhudo, onde teve a expressiva marca de 1500 downloads em uma semana. No mês seguinte em uma janela de chat o dono do blog me contou sobre o concurso para novos autores que uma editora estava promovendo. Três livros independentes seriam escolhidos para serem publicados pelo novo selo desta editora com uma tiragem inicial de duas mil unidades que seriam vendidas e distribuídas em todo o estado.
Inscrevi-me e mandei uma cópia impressa e encadernada do livro (com a letra no tamanho 6 e margens mínimas, para economizar ao máximo, o dinheiro estava absurdamente curto), sem nenhuma grande pretensão. Tão grande que foi uma incrível surpresa quando recebo a notícia de que meu livro fora uns dos escolhidos para ser distribuído.
Algumas semanas depois recebo embrulhado em papel pardo um exemplar da primeira edição da minha obra. Em uma capa preta fosca, com letras roxas brilhantes, todas maiúsculas, escrito “Violeta”, Uma flor em relevo e meu nome escrito embaixo. Eu receberia 10% das vendas do livro, o que é normal para os escritores. No website da editora ficaram disponíveis 200 exemplares para venda. Qual foi minha surpresa ao ver em menos de um dia já haviam sido esgotados. Em menos de 10 dias, os dois mil exemplares estavam sendo lidos por leitores de todo o estado.
Foi quando recebi um e-mail da Editora, dizendo que devido ao grande sucesso eles decidiram fazer uma segunda edição, dessa vez com uma tiragem maior e distribuição nacional. Contratei um agente literário, o livro foi visto e revisto várias vezes, a capa foi alterada, agora além do título e da flor em relevo, a capa possuía uma orelha com um texto bem feito, escrito por um dos críticos que julgaram o concurso, falando das boas avaliações do livro e dos pontos positivos da história. Na orelha da contracapa, minha foto em uma camisa social e uma pequena biografia sintetizando minha vida em cinco linhas. Assim em 378 páginas, minha obra se solidificou.
Aos 23 anos, um escritor aclamado, sucesso de crítica e vendas. Mas isso não é uma história de sucesso.
Uma coisa curiosa sobre livros que fazem sucesso hoje em dia. Sempre se espera de um jovem autor que o próximo seja tão ou mais valoroso que o anterior. E lógico, com o sucesso das vendas do primeiro título, era obvio que uma sequência não deveria tardar. Haviam passado apenas alguns meses do lançamento, quando recebi um telefonema do meu agente literário:
― Téo, precisamos conversar meu amigo.
― Sidney, algum problema, algo que eu possa ajudar?
― Téo! Recebi uma proposta grande do escritório da editora. É raro isso acontecer, mas eles estão dispostos a publicar seu próximo livro.
― Próximo livro? Como assim, eu te disse que não estava trabalhando em nada.
― É uma chance de ouro meu rapaz! Com seu sucesso, vão comprar qualquer coisa que você escrever.
― Mas não pode ser qualquer coisa. Violeta foi um trabalho de toda a minha vida, a história é muito bem fechada. O final conciso, Uma continuação seria um atestado de oportunismo.
― Bom, isso você quem decide. Quero ver as primeiras páginas quanto antes possível.
Não tive muito tempo para pensar, as ideias não surgem de uma sacola vazia. Elas vem de um deposito cheio de tralhas que você junta durante a vida. Lógico que haviam vários rascunhos, pensamentos anotados que não fizeram parte da primeira obra, mas, havia algo que não me possibilitava de juntas um punhadinho disso e daquilo e colocar no papel.

A primeira semana se passou, nada, de fato, eu sou muito bom na arte da procrastinação, Revirava meu caderno de anotações, folhava as páginas da minha primeira edição do Violeta. Meu apartamento minúsculo estava parecendo uma zona de guerra. Meu agente ligava furioso perguntando dos rascunhos, a pressão que ele sofria da editora, os prazos vencendo.
Eu desligava o telefone e sentava na frente do computador. O editor de texto aberto na minha frente. A página em branco com o ponto de inserção, aquela maldita barrinha preta piscando sobre um fundo branco em seu ritmo compassado não me traziam nenhuma ideia.
Outro e-mail da editora falando sobre os prazos para entrega dos primeiros rascunhos, dois e-mails do meu agente. Dois e-mails de fãs que por coincidência descobriram meu e-mail pessoal em uma rede social cujo perfil eu não acessava a mais de dois anos. Um site de vendas coloca Violeta no topo das vendas, o livro está em promoção no outro. Percorro alguns websites para me distrair. Nenhum recado novo naquela rede social, nenhuma postagem interessante no microblog. Me deito, coloco o notebook no colo. Abro um jogo qualquer, que logo perde a graça e eu o fecho. Checo os e-mails novamente, nenhuma novidade. Abro o editor de texto, o ponto de inserção esta piscando mais rápido ou isso é uma impressão? Nenhuma ideia nova.
No dia seguinte a dança se repete. E no dia depois desse, e depois desse e no próximo também.
Um bloqueio? Não, algo, além disso. Violeta foi algo que minha vida me levou a escrever. Todas as minhas experiências me direcionaram para juntar todas aquelas ideias e tornar real aquela obra. Algo assim não acontece todo o dia. Não pode ser forçado. É algo espontâneo, como um bolor que nasce no pão que esta na geladeira. Violeta não foi planejado, surgiu. Apenas assim.
Como posso fazer para que algo novo nasça? Eu estou tão cansado. Eu preciso ir pra cama e pensar em alguma coisa. Amanhã eu tenho que pensar em algo nem que seja um blefe.
Acordo. Mas tudo parece igual. Meu agente me liga e em uma breve conversa diz que a editora está apertando cada vez mais o cerco. Eu decido que está na hora de desabafar. Confesso minha angústia, mas digo que se trata de apenas um bloqueio, imploro por mais tempo para surgir com uma resenha nova.
A voz do meu agente se silencia.
Meu apartamento parece sucumbir em cima de mim. “Vou ver o que posso fazer, dê um jeito de superar isso”. A única resposta que recebo.
Vou superar isso. Olho pela janela, Tudo igual, tudo a mesma coisa. Quero sair daqui. O Desejo é quase espontâneo. Esse lugar me faz mal. Tem muita gente ao meu redor. Eu só quero estar em algum lugar longe daqui. Mas o que exatamente é o lugar que eu estou? As pessoas? Meus leitores? Meu agente literário? Olho ao redor e vejo meu exemplar do Violeta jogado sobre uma mesa.
É de você que eu quero estar longe.
Uma busca rápida no computador. Um novo e-mail, que só eu usarei. Perfis pessoais nas redes sociais. Apagados. Amigos próximos? Nenhum com tempo disponível o suficiente pra notar.
Apanho meu celular. Um novo número por enquanto. Os lucros com as vendas do livro me sustentarão pelos próximos meses. Agora, pra onde correr? Algum lugar longe. Algum lugar onde eu não conheça absolutamente ninguém.
Passo correndo pela sala, esbarro em uma pilha de revistas velhas. Uma delas cai aberta mostrando as fotos de uma cidadezinha peninsular aparentemente bem tranquila.
Santa Clara. Parece um lugar interessante para encontrar inspiração.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

VIOLETA - Bios.


Peônia "Peggy" Cindernell



Peggy é a dona do Peggy's, um barzinho na parte antiga da cidade de Santa Clara. Estilosa, roqueira e desbocada, são essas as palavras pra descrevê-la.
Eu a conheci durante a minha fuga logo no primeiro dia quando estava realmente cansado e amargurado no balcão de seu bar e foi ela que me apresentou o Greg, me indicou para ser colega de quarto dele e de certa forma foi ela a "culpada" por tudo isso acontecer.
Peggy cuida do bar na maior parte do tempo, mas tira folga nas segundas e quintas. Eu tenho muito medo dos dias em que ela está de folga, pois nunca se sabe o que Ms. Cindernell vai aprontar.
Ela sempre foi legal comigo e se mostrou uma verdadeira amiga em várias ocasiões. Do jeito dela Peggy é uma pessoa muito boa.


Gregório "Greg" Jefferson


Ah, o Greg...  Eu realmente acho que deveria odiá-lo do fundo do meu coração, mas... Eu não tenho essa habilidade, infelizmente. A primeira vez que o vi, ele estava multando minha Vespa que estava estacionada irregularmente em um parque na parte antiga da cidade de Santa Clara.
Na maioria das vezes, as piadas dele são sem graça, ele é um completo idiota, me tira do sério, mas... Ele é tão carinhoso e tão legal com todo mundo ao redor...
Ele é bem desleixado, vive tentando remediar isso, eu admiro essa tentativa de melhorar da parte dele. Uma vez ele derramou leite nas minhas anotações, Fiquei com muito ódio, mas quando ele veio pedir desculpa com aqueles olhos azuis de cachorro que caiu do caminhão de mudança, eu só suspirei e disse "Ok, deixa pra lá".
 Trabalha desde muito novo na guarda municipal de Santa Clara, praticamente não para em casa, mas é muito fácil de encontrá-lo pelas ruas da cidade velha.

Theodoro "Téo" Alvarez


Bom, esse sou eu. Me deixei por ultimo, pois como diziam as pessoas naquela antiga rede social "é difícil me descrever", mas vamos a uma tentativa rápida. Sou um jornalista e escritor, escrevi um romance policial chamado "Violeta", considerado o maior best seller dos últimos anos. Por um tempo, achei que tinha gasto todas as minhas habilidades de escritor nesse livro, e isso me fez querer fugir para uma cidade bem afastada de toda minha vida cotidiana. 
Encontrei a cidade de Santa Clara, onde conheci Peggy e Greg, duas pessoas maravilhosas que me ajudaram, cada um a sua maneira, a superar meus problemas de inspiração.
Peggy foi minha conselheira, ombro amigo, mentora e guia espiritual, sem falar que fazia meu almoço e café da manhã.
Greg... Bem... Greg talvez seja só alguém com quem eu queria gastar muito... Muito tempo...