domingo, 18 de agosto de 2013

Epílogo da Parte 1

Ele colocou um pen drive no rádio. O Display mostrou “Columbia – a hora certa.mp3”e a música começou a tocar.

Ontem te vi
saindo de casa
Você olhou para o céu
e abriu o portão.

Ele colocou o que pode em sua mochila, junto com seu computador. Abriu o guarda-roupa e tirou duas caixas de papelão. Nelas colocou livros, filmes e discos, colocou o restante das roupas que não couberam na mochila. Esticou o pescoço pelo corredor e se certificou de que estava sozinho em casa. Pegou seus pertences que estavam no banheiro e no escritório, onde encarou uma foto dos dois abraçados. Única foto deles juntos, ambos abraçados e sorrindo, dentro da cabine fotográfica, como se não houvesse amanhã. Apenas bufou e deitou o porta retrato, pegou os últimos livros e voltou para o quarto.

Sem olhar para mim,
sem mover o rosto ao ligar o carro e sair,
sem parar nos sinais.

Pegou o bloco de notas, um envelope e anotou um bilhete para a melhor amiga, onde anotou algumas palavras.

“Peggy, não da mais. Preciso ir embora daqui. Não estou magoado com você, espero que possamos continuar sendo amigos mesmo você considerando ele como um irmão.
Vou te explicar tudo assim que chegar e colocar meus pensamentos em ordem. Você pode ficar com o frigobar, vai ser de alguma ajuda. Em troca você pode me mandar essas caixas para o endereço que eu escrevi nelas? O dinheiro que está nesse envelope deve pagar o frete.
PS: Segui o seu conselho enquanto pude, tentei não fazer nada de cabeça quente, mas não pude. Não passei no bar porque quero me afastar dele o mais rápido o possível. Espero que você entenda.

Com amor.
Seu amigo Téo.”

Colocou as duas caixas na escrivaninha e o envelope com a carta sobre elas.

Tudo bem
A timidez já não importa mais
Eu já sei
que o tempo não pode voltar atrás

Pegou o celular e procurou o telefone da amiga na agenda. Mandou uma curta mensagem “Deixei um presente pra você no meu quarto. Venha buscar”. A curiosidade dela deveria fazer o resto do serviço.
Tomou um banho e colocou sua ultima troca de roupa disponível. Colocou a mochila nas costas e fechou o zíper da jaqueta.

Aqui o vento congela
Aqui, ninguém mais me espera
Espere a hora certa pra me olhar
que eu vou estar lá
que eu vou estar lá
Espere a hora certa para olhar

Parou na frente do quarto dele, pensou em dizer adeus por um segundo. Desistiu. Desceu as escadas colocando o capacete, deixou as chaves na mesinha da sala. Saiu na porta da frente e olhou para o céu azul com poucas nuvens, um vento fresco anunciava um dia tranquilo.
Era hora de ir.
Abriu o portão, sem olhar para traz, sem mover o rosto, ligou a motoneta e saiu, desprezou todas as sinalizações.
O que ele não sabia é que alguém desligou rádio chorando. Alguém o viu abrindo o portão, alguém estava arrependido.
O tempo não pode voltar atrás...

Ontem te vi
saindo de casa
sem levar nada nas mãos

sem olhar as flores que eu segurava.

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